DA MEMÓRIA DE UM CAMINHONEIRO - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed. 10 Set 2011
Eita, “nação de gente” prá ter histórias e estórias prá contar! Uns são carrancudos, “séro qui só um sapo cagando”; já outros, são a própria irreverência personificada, o que torna menos difícil a vida penosa; sua e de seus colegas de profissão, pelas estradas desse nosso Brasilzão velho de guerras e batalhas de todos os tipos... Mas, em todos os casos “essa turma” é um verdadeiro poço de sabedoria das coisas do nosso povo; se não; vejamos. O cara, muitas vezes sai de casa prá viajar de um extremo ao outro desse “país continental”, deixando alguém dos seus doente, em casa; com compromissos de todas as espécies para honrar; não tem direito a data de aniversário; nem seu nem de ninguém de sua casa; aguenta toda sorte de contratempos no seu roteiro de viagem; enfim; o cabra “sofre mais do que rato em casa de ferragens”; e por isso mesmo; tudo o que acontece consigo e/ou ao seu redor, durante as viagens, muitas vezes, são verdadeiros “achados”... Se eu fosse enumerar tudo o que tenho sobre a “espécie”; daria não um livro; mas uma verdadeira “bíblia”; se não Sagrada, mas, com toda certeza, “fulêrada”... E hoje, repasso para vocês, queridos leitores e leitoras; essa fulêragem verídica, ocorrida nos Estados Unidos de Brejo do Cruz-PB. Essa estória me foi contada pelo meu querido amigo Eluciano, da Natal Veículos; indivíduo que também atende, segundo seu irmão Galêgo e Dr. Sérgio, da Espacial Veículos; pela alcunha de “Cutuvêlíin de Ôro”. Ninguém me pergunte o porquê... Em tempo, o Dr. Guimarães nada tem a ver com a fulêragem do “Cutuvêlíin de Ôro”... Pois bem! O personagem principal, o “galã” da fulêragem, é um antiqüíssimo caminhoneiro de Brejo do Cruz; Seu Alderí, que vem a ser o pai do Itamar, o papa da carcinicultura do RN. E o seu Alderí mesmo, foi quem contou esse causo para o Eluciano. Eu já conhecia o causo, pois “gente qui nem eu”, parece que tem um ímã prá atrair “presépe” de toda as espécies possíveis e imagináveis. Só não tinha conhecimento que o mesmo tinha como personagem, o seu Alderí. E, segundo narrativa sua, seu Alderí vinha pelas estradas de sua região, quando de repente, baixou um pneu de seu “possante”... Ele encostou no acêro da estrada, desceu,e, quando ia abrindo a gaveta das ferramentas para efetuar a troca do pneu; eis que lhe aparece um “matutíin”; um menino daquele “curioso, enxerido e cunversadô”... Dá prá tu ?... Seu Alderí arrastou o macaco, o menino olhou para aquele instrumento de trabalho e se pronunciou:
- Pai tem dois dêsse...
Seu Alderi tirou a espátula e o menino continuou:
- Pai tem duas dessa...
E assim foi com a chave de roda e demais apetrechos para efetuar o conserto. Quando já havia trocado o pneu e se encontrava guardando as ferramentas utilizadas, o seu Alderi sentiu uma incontrolável vontade de urinar... Foi prá lateral trazeira do caminhão, e quando estava botando a “lucuvina” p’ro lado de fora, eis que surge o menino e fica olhando para aquela “coisa” francamente admirado. Sem saber o que fazer, seu Alderí tentou “empulhar” o garôto:
- E aí, menino; seu pai num tem duas dessa não ?
O menino, olhando para seu Alderí como quem olha de cima prá baixo, disparou:
- Tem não; num tem duas não sinhô! Tem só uma, mais dá bem duas ô trêis dessa, “no tamãe e na grussura”!...