PRÁ NUM FAZER QUI NEM ZECÃO...- Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed. 27 Ago 2011
É, minha gente; tem vez que a gente, mode contá uma históra ou causo, tem qui contá ôto premêro. Cumo vocêis já é sabedô, in 1969, meu pai “cirmô da bassôra” qui eu tinha qui sê médico. E hoje, passado essa “ruma de tempo”, ao uví a música do saudoso compositor Aciole Neto, cantada apelo meu querido amigo e “paricêro”, Santanna O Cantador; tenho a impressão, pela letra da música, que Aciole Neto, mesmo sem me conhecer, contou a história da minha vida... Qué vê ?! Ispie a letra da música: Eu perdi o vestibular de medicina,/ minha mãe ficô zangada e eu nem um pôco./ Eu nem sei, mas talvez seja muito bom;/ vou aprender a respeitar “penicilina”./ Sou nervoso e tenho medo de ver sangue,/ a família que me ver na cirurgia,/ costurando quem vem lá do bang bang,/ que aparece na TV,/ pois acontece todo dia./ Prá ter um anel no dedo,/ um “dê erre” no nome,/ ser um grande homem,/ feliz e famoso,/ mudar de repente,/ meu comportamento,/ tão escandaloso./ Casar com uma “virgem”,/ que nem minha tia,/ não me envolver,/ com essas má cumpanhia,/ qui num se penteia,/ freqüenta a cadeia e lugá perigoso./ Tenho medo da polícia e de bandido,/ alergia a marido corneado./ E um irmão qui num me sai do “pé do uvido”,/ me dizendo qui eu divia,/ istudá prá “adevogado”./ O ôto diz prá eu istudá ingenharia,/ mêrmo sem tê vocação,/ eu digo: Isqueça!/ Me pergunto se êsse peste gostaria,/ qui o prédio qui eu fizesse,/ lhe caísse na cabeça... Quem me conhece de perto, sabe que essa “letra” é a história da minha vida, sem omitir uma vírgula que seja... Pois é! Por absoluta vocação de ser “sonhador, amante da natureza e das coisas do povão”, eu lhe digo que talvez eu até tivesse sucesso profissional e financeiro como profissional liberal; mas em contra partida, vocês não teriam esse amigo todo “sábo cêdo”, contando causos e fuleragens da nossa gente... Já, segundo minha querida e saudosíssima “irmã na fulêragem”, a comediante Myrian Maia, com Zecão, filho filho do Cel. Ludrugero, o causo se deu de maneira diferente. O pai, fazendeiro de grande posse, mandou o filho Zecão estudar veterinária em Minas Gerais. Todo mês, o “fela da gaita” recebia uma mesada tão alta, que os colegas morriam de inveja. E Zeca, enganava o pai, diferentemente de mim, pois eu fui já meu pai sabendo que eu “era totalmente avêsso ao que êle se propunha”. Zeca se fazia que estava fazendo a vontade do pai, mas não queria “porríssima nenhuma com nada”; torrava o dinheiro do pai com bebida e raparigagem... E o F.D.P do Zecão, quando o pai telefonava e lhe perguntava como iam os estudos, respondia:
- Tudo bem, paizão; sou um dos primeiros da escola; pode se orgulhar...
No fim de quatro anos, volta Zecão com um diploma comprado com o dinheiro da venda de uma boiada. O velho Cel. Preparou uma festa na fazenda, para a chegada do filho, com direito a salva de tiros de “espingarda de soca”, mosquetão, “ronqueira” e tudo o mais. Foqueira assando milho, cinco “pôico no ispêto”, peru e “galinha de cabidela” à vontade; era coisa que não acabava mais. Quando o filho apontou na porteira do pátio, o foguetório tomou conta do céu e a fumaça inchava aos olhos da boiada do velho e feliz Coronel Ludrugero... E o Cel. era a “felicidade personificada”:
- Meu filho; meu filho!
No meio da festança, todo mundo “estourando o bucho pela goela”, chega um vaqueiro “esbaforido” e diz com respiração ofegante:
- Coroné, morreu um boi duis seu indagurinha e ninguém s’axtreve a dizê pru causo de que foi...
- Traga o boi, que meu filho vai dar o diagnóstico no meio desse povaréu todinho!
Colocaram o boi em cima de uma prancha improvisada e uma roda de “puxa saco” logo se formou diante do falecido que ainda “butava iscuma pura venta” ...
- Vamos, filho; prove sua competência; é chegada a hora.
E o recém formado, do alto de sua “cara de pau”, muito “despachado”, disse:
- Pai, fique no “butico” do boi que eu fico na outra ponta.
- Pronto, meu filho; e agora ?
- Agora levante o rabo do bicho, bem muito, que eu vou abrir a boca do “disinfeliz”.
O coronel só faltou arrancar o rabo do “finado”. Do lado de cá, o “doutor” mandou abrir a boca do boi, escancarou, botou a cabeça dentro e gritou:
- Pai, tá me vendo ?
- Não, não!
Ele soltou o boi, e solenemente, sentenciou:
- É nó na tripa!...