AMOR FELINO...-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed.16 Jul 2011
Oi, minha gente! Certa feita, o meu colega, o poeta Diógenes da Cunha Lima (Dotô, eu peço licença,/ prá lhe chamá de confrade,/ respeitando a otoridade,/ e o ané qui micê tem./ No campo da poesia,/ sua fama, ninguém nega;/ aí... nóis semo colega,/ pois sô poeta tombém... Versos do saudoso poeta seridoense, Clarindo Batista de Araújo.), tem coisas que devemos esquecer, para que não venhamos a sofrer duas vezes; mas tem coisas que devemos guardar e lembrar, para que não venhamos a perder algo de precioso; aí já é como diria meu saudoso e querido irmão José Quirino da Motta, “nos abismos infindáveis do esquecimento”... E razões sobradas, tem essas duas pessoas tão queridas para mim. Minha gente; êsse leriado é para lhes explicar que êsse causo, fictício e fruto da prodigiosidade da fantasia do povão; além de não ter autor comprovado, sendo, pois, de domínio público; eu já publiquei há uns “trezentos e poucos sábados atrás”, nesse mesmo espaço com o qual me comunico com todos (as) vocês, nos fins de semana. Só sei que me foi contada há umas cinco décadas atrás, num dos bancos da Praça da Bandeira, em Campina Grande-PB, pelo saudoso motorista do caminhão de meu pai, Givaldo Malaquias, enquanto fazíamos hora para o Programa “Forró do Zé Lagoa”, pseudônimo do grande Rosil Cavalcante, no auditório da Rádio Borborema. Estou recontando hoje, para que meus queridos leitores e leitoras que não tiveram a oportunidade de ler, também leiam e se acharem por bem, guardem nos arquivos de suas memórias... É um causo do tipo, “no tempo em que os bichos falavam” e conta a estória de duas gatas, mãe e filha, que numa certa noite, se arrumaram e foram “prá balada” nos telhados do bairro onde vivia o “gataral”... Passaram o dia todo se arrumando com o maior dos esmeros, se detendo em cada detalhe que chamasse a atenção dos bichanos, sem esquecerem absolutamente nada que as ajudasse na sua empreitada. Depois de pensarem em tudo, dormiram placidamente na sombra do oitão de uma residência, numa bica de zinco; e, ao cair da tarde, acordaram preguiçosamente e se dispuseram aguardar a hora da saída... Eis que chegou o por do sol, cuja bola alaranjada, quase cor de fogo, saudou o final de mais um dia, a chegada da noite e a saída da “lua cheia”, para deleite e satisfação dos amantes... E as duas gatinhas lá, na delas, fazendo das “cumiêra” suas imagináveis avenidas das grandes metrópoles, à espera dos seus “clientes”. Eis que de repente, lá vem uma dupla de gatos, um bem novinho, todo arrumado, que chamou de imediato, à atenção da gatinha nova, no auge do “fogo de sua juventude”. Conversa vai, conversa vem, tomaram o rumo de um grande telhado. Já o companheiro do gato novo, era bem mais “rodado” e a “gata mãe” já se conformou em não ter uma noite de amor das mais ardorosas... E tomaram o rumo do telhado vizinho de onde haviam sumido a gata nova e o gatinho novo. Daí a pouco, “cumeçô a recramação da gata nova e do gato novo”... Era uma “zuadêra mais disinfeliz dêsse mundo”! A pobre da gata mãe, coitada; logo cedo se “disimcumbiu de sua missão”. O gato veio só aguentô “duas leroada”! Aí, virô a bunda p’ru lado da gata véia, peidô e drumiu... A pobre da gata véia, “ficô na lambisquáia” e só bem mais tarde, também pegou no sono, pois não podia dormir, devido ao “verdadêro iscandêlo” que o casal de gato novo fazia... Finalmente o casal de gato novo se aquietou e pouco depois, chegou o amanhecer do dia. Quando se acordaram, já no meio da manhã, a gata velha, no caminho de volta para casa, puxou conversa:
- E aí, minha fía; cumo foi a arrumação p’ru seu lado ? Tu deve de tá tôda “discadêrada”, né ?
- Conte você premêro.
E a gata velha, se lamentando:
- Ah! Minha fía; o gato véio era “infadado demais”; só aguentô duas, aí virô a bunda p’ru meu lado, peidô e drumiu inté quage inda agora... Mais me diga; você deve de tá munto sastisfeita, né; cum uma zuadona daquela, né mêrmo ?!
Aí, a gatinha nova abriu o jôgo:
- Apôis, mãe; você se deu foi munto mió do que eu; aquela “latumia e zuadêra tôdinha”, era o danado do gatinho contando “cumo foi a noite qui caparo êle”!...