Uma Preferência Nacional

UMA PREFERÊNCIA NACIONAL

Nos idos de 1950, quando ainda se compunham músicas especialmente para o carnaval, surgiu uma, cujo nome do autor não me vem à memória, assim como o intérprete, que dizia mais ou menos o seguinte:

"Cara bonita tem seu valor, ô, ô,

Deixa falar quem quiser,

O que se olha primeiro

É a cara da mulher"

De certo que nos dias de hoje, com a liberalidade dos costumes e do linguajar, aquele autor jamais diria isso. Com certeza que na ultima frase da estrofe, naturalmente que ele substituiria a cara como a parte que se olha primeiro, por uma outra parte do corpo muito em moda hoje em dia. A bunda.

Assim ficaria:

"...

Mas o que se olha primeiro,

É a bunda da mulher."

Sim, porque essa é, e sempre será, a parte da mulher que os homens primeiro observam e mais admiram, ontem, hoje e, acredito, sempre.

De uns anos para cá, entretanto, essa parte carnosa do corpo humano, formada pelas nádegas – conforme a definição de bunda dada pelo nosso velho, saudoso e bom Aurélio Buarque de Holanda Ferreira no seu Dicionário da Língua Portuguesa – passou também, a ser a parte do corpo do homem mais admirada pelas mulheres.

O que as mulheres vêem de bonito na bunda dos homens? Ignoramos por completo. Mas a verdade é que elas passaram a admirá-la de tal maneira que hoje em dia, alguns barbados até cuidam, com todo zelo e carinho, da beleza da dita cuja, só para agradá-las, já outros cuidam para deliciar não a elas, mas sim ... bem, vamos deixar isso pra lá.

Todavia de forma nenhuma concordamos com o tratamento que vem sendo dado ultimamente a tão esplendorosa, charmosa e magnífica parte do corpo feminino, isto porque, desde prístinas eras que o local sempre foi conhecido pelo portentoso nome de BUNDA.

Dissemos portentoso, porque BUNDA é uma palavra que – como ela própria – enche a boca quando pronunciado com a reverência e o respeito que merece. Se alguém duvida, ponha-se diante de um espelho e a pronuncie pausadamente: BUUUNNN DA!

Após ter praticado esse ato, diga com toda sinceridade se é ou não é uma palavra sonora ao extremo e que enche a boca quando bem pronunciada?

Mas, como dizíamos, ultimamente, a par de ser a parte das mulheres mais observada, mais cultuada e mais desejada pelos homens, ela passou a ser tratada pelo insignificante nome de bumbum.

Ora meus amigos, dizer-se que essas cidadãs, modernamente denominadas modelos – que posam peladas para essas revistas que são a delícia dos onanistas habituais – têm um lindo bumbum, é até uma ofensa a tão lindo e essencial complemento do corpo feminino.

Quem tem bumbum é criancinha recém nascida.

- Olha o bumbumzinho do meu nenen, que gracinha – dizem as mamães novas quando vão trocar a fralda da filhinha ou do filhinho com poucos dias de nascido.

Chamar bunda de bumbum é o mesmo que pegar um cara super dotado, desses de filme pornô e chamar o membro dele de pipi ou pinto.

- Que gracinha de pipizinho, diria alguém olhando o – segundo as mulheres – magnífico membro do famoso Long John Silver.

Da mesma maneira, sempre soubemos que pipi, pinto e outros que tais, é invenção de criança – menino e menina – para tratar o membro masculino, quando querem brincar de médico. E qual menino já não se esbaldou de brincar de médico com a priminha ou com a vizinha?

Já nos adultos o nome de tal apêndice é bem diferente e está longe de poder ser assim chamado, se bem que tem muito adulto que na hora ‘h’ causa admiração pela pequena proporção do dito cujo, causando até certa apreensão – para não dizer decepção – à sua companheira.

Mas, não estamos aqui para tratar desse complemento do corpo masculino, que a grande maioria dos homens gosta de possuir, muito embora haja aqueles que preferiam não tê-lo, mas que gostam que outros o tenham.

Convenhamos, entretanto, que tal membro é uma das coisas mais feias que existe, se olharmos pelo lado estético. O que? Você o acha bonito? Bem isso é problema seu e é perfeitamente explicado por Freud.

Portanto, convém que se deixe bem claro que bunda é bunda e bumbum é... bumbum. Procuremos diferenciar um do outro, pelo amor de Deus.

A propósito, muitos anos atrás este modesto escriba estava com um grupo de amigos, jogando conversa fora, quando um deles chamou a atenção dos demais para uma D. Raimunda que passava na calçada do outro lado da rua. Como todos sabem, D. Raimunda é aquela feia de cara, mas boa de bunda.

Assim, quando a cidadã passou, esse amigo, como um bom e atento observador que era, teve a oportunidade de comentar:

- Meus irmãos, olha lá que cu!

Nesta oportunidade, um dos componentes do grupo que na época era estudante de direito, corrigiu-o com a seguinte observação:

- Com todo respeito que me merece o amigo, mas aquilo não é um simples cu. Este todo mundo tem. Eu, você, todos enfim. Aquilo é sim, uma magnífica bunda, coisa que nem todas têm.

E é verdade, pois todos, sejam homens ou sejam mulheres, ao nascerem já trazem no seu lugar certo o denominado orifício anal e com ele crescem e, quando adulto dele se utilizam da forma que mais lhe apraz, além daquela para a qual ele foi ali posto.

Afinal, sendo parte integrante do seu corpo e, portanto, propriedade exclusivamente sua que, com certeza, o acompanhará até à morte, somente a ele cabe decidir sobre a maneira ou maneiras, de como usá-lo, se unicamente como meio de saída ou também, como porta de entrada.

Mas a bunda não. Essa, em algumas mulheres, é um dom que, com o passar do tempo se aprimoram de tal maneira que conseguem atingir a perfeição total.

Outras há, no entanto, que conseguem, com as inúmeras técnicas atualmente disponíveis no mercado, serem aperfeiçoadas a tal ponto que ninguém consegue distinguir entre uma e outra, ou seja, as bundas perfeitas de nascença e que são um dom que a natureza lhes deu, das bundas aperfeiçoadas por tratamento que por vezes demoram anos a fio.

Uma bunda perfeita, muitas vezes consegue obscurecer qualquer outra falha que a mulher tenha em alguma outra parte do corpo.

Tomemos como exemplo essa cidadã, atriz de novela e que durante algum tempo fez propaganda de determinada marca de cerveja, contracenando até com o nosso saúdo Bussunda.

Posou pelada para determinada revista e algum louco, na falta de alguma coisa útil para fazer, descobriu que ela tinha celulite nas coxas. Ora meu amigo, diante daquele monumento que ela possui na parte de trás do corpo logo acima das coxas – no lugar onde as costas mudam de nome – quem vai se dar ao trabalho de olhar para essas que, no caso dela, apesar da celulite que dizem existir, também são dignas dos maiores encômios.

Temos também, e não são poucas, as possuidoras das chamadas bundas chochas, que são aquelas em que não há tratamento que dê jeito. Quanto a essas, é preferível que as ignoremos.

Há, ainda, as que têm a bunda caída, vulgarmente conhecida como 'de oveiro baixo'.

Finalmente existem, as bundas grandes demais que pecam pelo exagero, afinal, como diz o velho ditado, “tudo demais é sobra” e esse é um exemplo típico. Sobram nas roupas, nas cadeiras, nos banquinhos dos bares etc.

Essas são geralmente umas bundas flácidas, cheias de celulite e que, devido ao tempo, ou ao seu uso constante, perderam a sua forma original, cresceram demais se tornando, assim, mais um transtorno para quem as tem, do que um adorno.

Uma região glútea perfeita não é hereditária, muitos casos havendo em que as filhas não puxaram a mãe, senão, por exemplo, quando uma bunda bonita passasse na rua, poderia gerar algum comentário de parte dos contumazes adoradores desse complemento anatômico:.

- Olha lá a Martinha menino! É a bunda da mãe, não é mesmo.

- É verdade – diria o outro – é uma família de bundas bonitas e parece que a cada geração que chega, se aperfeiçoa mais.

Já outras, coitadas, seriam umas fracassadas na vida, pois chamariam a atenção dos circunstantes, não pela perfeição do acabamento, mas sim pela desproporcionalidade do tamanho.

Esse não é o caso, por exemplo, de D. Biluca, dona de um imenso adereço posterior, sem que com isso suas duas filhas, Dulcinha e Verinha tenham lhe acompanhado. Muito pelo contrário, eram totalmente desprovidas desse importantíssimo complemento.

Essa D. Biluca, aliás, não obstante já estar mais pra coroa do que pra tiara, quando passava na rua, na pequena cidade onde nasceu, viveu e morreu, chamava a atenção dos freqüentadores do Café Chic.

Estes, em sua totalidade velhos na idade em que muito homem já não sabe distinguir a diferença entre a Branca de Neve e o Zangado e que, portanto, nada mais almejavam com respeito a sexo, conformam-se apenas em admirar o belo.

Assim é que há poucos dias, quando ela, garbosamente passava na porta daquele frege mosca – apesar do nome pomposo – mereceu de parte de Haroldo Formigão o seguinte e singelo comentário.

- Essa D. Biluca tem uma bunda que deveria ser moldada em gesso que é para se transformar em monumento quando ela morrer.

- Já pensou, em plena Praça da Matriz, bem em frente a porta da igreja, aquele imenso monumento em homenagem a bunda de D. Biluca? Complementou Andrezza.

- É verdade, o Padre Gregório iria morrer de arrependimento de não haver se casado com ela, retomou a palavra Haroldo Formigão.

- Que história é essa, Formigão? Perguntou o Coronel Baldachi.

- Então você não sabe? Antes de ser padre, ele namorava ela, entretanto, dizem as más línguas, que ele só aderiu ao celibato desgostoso por ela ter acabado o namoro, passado pouco tempo, se casado com o Pacheco.

Tais observações não poderiam passar em branco para Tio Roberto e, logicamente, gerou, de sua parte, um comentário maldoso e apimentado.

- É meus amigos; o Pacheco deve passar bem ali. Deve se abastecer bem naquela imensa fonte.

Portanto, caros leitores, vamos deixar bem claro. Doravante – exceções à parte – chamemos de bunda o fabuloso complemento que Deus houve por bem em dotar as mulheres, e não de bumbum, palavra insignificante e desprovida de qualquer valor para identificar tão importante e ornamental parte do corpo humano.

Existia – não sei se existe mais – há alguns anos atrás, um cigarro, que – dizia o fabricante – era o mais consumido no país.

Chamava-se Continental, e por este motivo a sua propaganda dizia: "Continental, uma preferência nacional".

Hoje não.

A preferência nacional, graças ao Bom e Todo Poderoso Deus deixou de ser o cigarro Continental – que só faz mal à saúde – e passou a ser a Bunda que, além de fazer bem à saúde, principalmente aos olhos, muito menos faz mal e é, no mínimo, um deleite, um colírio para os nossos cansados olhos, diante de tanta coisa horrível que vemos por aí no cotidiano.

E que assim permaneça, "per secula seculorum". Amém.

São Paulo/SP, Julho/2011

S B Braga
Enviado por S B Braga em 15/07/2011
Código do texto: T3096595