O TOCADOR DE TAROL - Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - Natal-RN- Ed. de 22 de janeiro de 2011
O TOCADOR DE TAROL
Tem gente que não nasceu; foi fundado! Eu acho, pessoalmente; que esse é o “causo” do indivíduo do qual vou falar hoje. Seu nascimento e/ou fundação, se deu em mil novecentos e cacête, na cidade de Sumé-PB. Eu falei Sumé; não foi “Suné”, não senhor! Suné é um dos apelidos daquele indivíduo que “da fruita qui muié gosta; ingole inté o caroço”... Pois bem! Esse cara do qual estou falando, recebeu na pia batismal, o nome de Amaro Trezena da Silva. Na década de sessenta, quando foi de Sumé, trabalhar como vaqueiro de meu pai, na fazenda Pocinhos, em Cabaceiras-PB, recebeu dos colegas de trabalho, a alcunha de Mário Véio; alcunha essa, que perdura até os dias de hoje... Foi protagonista de todos os tipos de “presépe” que se possa imaginar; desde o tempo que se entende de gente... Gente ?! É, queridos leitores e leitoras; no bom sentido; como ele mesmo diz dos indivíduos que vieram ao mundo com a missão de “cum suas arrumação”, fazerem as pessoas sorrirem; Mário Véio “é”, ainda hoje, pois continua batendo perna na cidade de Boa Vista-PB; “o cara qui butô catinga in merda de gato branco e jogô a receita fora”... Isso mesmo, que é para ninguém tirar o cheiro tão agradável... No tempo de rapazinho, lá em Sumé; não existiu um único vivente daquela cercania, que não tenha sido vítima de pelo menos uma munganga de sua autoria. Cego, aleijado, doido, rapariga, fresco, enfim; ele passou seu “visto” em tudo e mais alguma coisa... Tururú enfermeiro; que encabulou um palhaço de um circo “tumara qui chova” com a sua risada de estalo; era seu fiel companheiro e escudeiro nas suas peregrinações presepeiras. E esse mesmo indivíduo, Mário Véio, pasmem vocês; fazia parte da banda de música da cidade, como exímio tocador de tarol. Pois é; a munganga que cito hoje desse camarada, se deu num dos ensaios da banda, que estava se preparando para uma quermesse. A banda se encontrava a todo vapor, todos os participantes “nos trinques”, quando o tocador de trombone adoeceu; o que foi suficiente para torrar o juízo (que já era pouco...) do maestro; o mestre da banda. Mas, andando acima e abaixo, pelos sítios, distritos e cidades da circunvizinhança; eis que apareceu para o mestre da banda, um suposto tocador de trombone, para preencher a vaga do que havia adoecido. O maestro da banda, precisou fazer não sei o que; e deixou Mário Borbolêta (que era como Mário Véio era conhecido no seu tempo de rapaz... Essa estória de Mário Borbolêta, depois eu conto...) encarregado de fazer o teste com o trombonista que iria chegar às duas horas da tarde daquela quarta feira que antecedia a apresentação , marcada para o sábado. Prá começo de conversa, o cara veio chegar no local de ensaio da banda, às quatro e meia ou cinco da tarde; e quando deu boa tarde, Mário quase cai prá trás, com o “bafo da marvada”... Mário recebeu o cara, até com boas maneiras, fez o teste e levou o cara prá o alojamento ao mesmo destinado. Lá, o tocador de trombone caiu num sono etílico dos mais profundos possíveis; e Mário foi à casa do maestro, que lhe esperava impaciente:
- E aí, Mário; o trombonista veio ?
- Veio mais foi mêrmo qui num tê vindo.
- Por que, homem ?
- Ôxente ?! Prá cumeçá, ficô de chegá ais duas da tarde, chegô de cinco; e ainda p’ru cima; bêbo e mais melado do qui corda de amarrá pôico!
E o maestro, angustiado, ainda perguntou, já temendo o que estaria por vir como resposta:
- Mais puro meno toca dereito ? Sabe usá o instrumento ?
Aí, meu fíi, Mário Borbolêta disparou:
- Sabê, sabe; mais tem um porém...
E qui porém é êsse, hôme de Deuso ?
- O bicho é mais disafinado do qui peido dento d’água!...