O ARREPINDIMENTO DO MATUTO - Causo fictício...- Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - Natal-RN-Ed. 25 de set. 2010
Lá no Iate Clube de Natal, onde todas as terças, quartas e quinta feiras, se realiza o Projeto Por-Do-Sol-Do-Potengí, quando nós, que participamos do mesmo, chegamos mais cedo, ficamos sempre numa das mesas, onde no nosso papo, “saí de tudo e mais um bocado de fuleragem”... Vida alheia, “versos sacânicos”, piadas, causos; enfim, todo tipo de “presépe”, possível e imaginável. Todo mundo que do projeto participa, tem sua parcela de colaboração. Tem vez, que de quatro às cinco e dez da tarde, quando se inicia nossa “função”, é munganga que não acaba mais. Eu, naturalmente, nesses momentos maravilhosos, me sinto como se estivesse literalmente na “antessala (não sei se é assim que se escreve...) do céu”... Livre, leve, solto; mais à vontade, impossível. Me identifico com tudo e com todos, tal qual meu “paricêro” Itanildo Show. O peste tem “ais munganga e fulêrage” tudo anotado no seu celular e na cabeça “pensante”; e na quinta feira próxima passada, esse “indivíduo competente”, como diria o saudosíssimo narrador esportivo da Rádio Globo-RJ, Waldir Amaral; nos contou esse causo que hoje repasso a vocês, queridos leitores e leitoras do velho trovador e contador de causo. E o faço, colocando no cenário e na “acontecência” do mesmo, como personagem principal, meu irmãozinho matuto, já que o causo é fictício, fruto da imaginação e da prodigiosidade da mente de quem o criou... Intonce, cum o “leriado a cáigo desse amigo de vocêis; perpare o butico, qui lái vai chibata”... Conta o folclore da imaginação popular, que um matuto, de “fidelidade canina” dedicada a seu patrão, num final de ano, foi agraciado pelo mesmo, recebendo como presente, uma viagem para uma romaria, com tudo pago pelo seu empregador. E, como já dizia o velho e saudoso LILICO (Quem não se lembra dêle ?...), qui “matuto num é bêêêsta; matuto sabe contá inté déiz”; o matuto sortudo, querendo provar sua inteligência, guardou todo o dinheiro recebido do patrão; e se mandou a pé, no rumo de Juazêro do Pade Ciço... Numa das muitas noites dormidas, ora ao relento, ora nos alpendres das fazendas; o danado arranjou coragem para gastar uma fração mínima do dinheiro que levava, dormindo na pensão de uma viúva de corpo escultural e rosto angelical; e com uma “carência pombal” sem limites... O matuto era católico prá lá de fervoroso; e quando a viúva o procurou na calada da noite, em busca de “tirá ais têia de aranha do xiníin”, vestida com uma camisola transparente e sem absolutamente nada por baixo, êle se “arriliô”:
- Ôxente ?! Qui danado é isso, dona muié ? Num venha cum essa gaiofança prá riba d’eu não; eu vô p’ruma romaria; num quero pecá não...
Disse isso, pegou suas coisas e se mandou em procura da primeira cidade. Em lá chegando, foi direto à primeira Igreja que encontrou aberta, a fim de se confessar, por quase ter caído naquela “tentação em forma de sereia”. Chegou no confessionário, se ajoelhou e contou a história ao padre, sem omitir um único detalhe que fosse. O padre pensou, pensou e para espanto do nosso matuto; lhe deu a seguinte penitência de sua confissão:
- Volte lá, se hospede de novo e na hora da refeição, coma cinco quilos de farelo de trigo com capim...
- ? ? E pruquê, seu pade; se eu num sô cavalo ?!
- Não é cavalo, mas é burro; devia ter “traçado” a mulher e depois ter vindo se confessar. Volte; “dê uma chimbada daquela de cego vê o mundo”; e aí sim; venha se confessar novamente, que eu lhe dou a penitência como deve ser dada!...