O VERDADEIRO GRITO DA INDEPENDÊNCIA
É do bom conhecimento de todo brasileiro informado que, após o último acordo ortográfico da língua, as línguas portuguesas do Brasil e de Portugal possuem agora a unificação da escrita, com cerca de 98% do vocabulário. Este fato, porém, não descarta as diferenças nas línguas, não somente no sotaque e nas gírias, como no significado de algumas palavras também.
Exemplos dessas diferenças de sentidos são fartos. Preste bastante atenção a esses para não acabar cometendo algum deslize bobo em alguma conversa lusitana. “Cuecas”, por exemplo, se refere tanto à peça de baixo masculina quanto a feminina. “Bicha”, em Portugal, significa fila. “Crica”, que em algumas regiões do Brasil é uma gíria para pessoas implicantes, na terra lusa é como é conhecida popularmente o órgão sexual feminino. “Cacete” é baguete, “Pica” é injeção, “Puto” é garoto, e por aí vai. A palavra “Cu” é especialmente interessante e fácil de confundir, já que lá é utilizada para designar tanto as nádegas quanto o próprio orifício.
O fato curioso é que, apesar de ser a língua mais fácil de se traduzir, já que a diferença de vocabulário inclui não mais que mil palavras, é também a de menor conhecimento entre os brasileiros, perdendo para línguas como Inglês, Francês, Italiano, Chinês, Árabe, Hebraico, Latim, Esperanto ou até mesmo LIBRAS (linguagem dos surdos-mudos).
Infelizmente erros de tradução são comuns até mesmo entre os grandes tradutores. Um exemplo disso é o livro best-seller de Noah Gordon, “O Físico”, que conta as aventuras da viagem de um aprendiz de medicina inglês para estudar na Faculdade de Medicina da Pérsia. O título original do livro é “The Physician”, que em português significa O Médico. Porém, no Brasil foi traduzido como “O Físico”. A polêmica que existe é se o tradutor teria cometido um pequeno deslize, confundindo a palavra physician (médico) com physicist (físico), ou então feito à tradução de forma criativa e sagaz, já que os médicos eram chamados “físicos” no século XVI (nome pelo qual também ficaram conhecidos no Brasil no século XIX, onde também eram chamados popularmente de “cirurgiões-barbeiros”.)
Por outro lado temos aquelas famosas traduções, já famigeradas. Exemplos dela são “To be or not to be” (Ser ou não ser) do dramaturgo inglês William Shakespeare, “Je pense, donc je suis” (Penso, logo existo) do filósofo francês René Descartes, “Veni, vidi, vici” (Vim, vi, venci) do general romano Júlio César, e até mesmo a tradução de músicas como YMCA e Macareña em linguagens de expressão corporal indescritíveis.
O que não estamos acostumados a ver são as traduções do português Portugal x Brasil. É possível até que alguns leitores nem mesmo soubessem que existe uma pequena variação entre as línguas há alguns minutos atrás, antes de começar a ler este pequeno artigo. O fato é que elas existem, e nós as conhecemos, apenas não associamos.
E para recuperar o devido mérito, e provar que existem belas traduções do português para o português, darei aqui um belíssimo exemplo desse tipo de tradução, tão sem reconhecimento entre esses adoradores de futebol, bundas e vida alheia. E nada melhor para exemplificar essa categoria de tradução do que o acontecimento mais importante para o Brasil, depois do anúncio de mais um Big Brother: o famoso grito à beira do Ipiranga, o grito da Independência do país.
Essa tradução é um exemplo de uma tradução séria, realizada com maestria, demonstrando toda a elegância dos competentes tradutores de português-português. O original nos põe frente a várias pegadinhas da língua portuguesa, como as que vimos no começo do texto, e nos permite com a ajuda de uma tradução minuciosa em todos os detalhes, saborearmos essa língua lhana e esbelta que é o português. Para finalizar, fica para análise o trecho traduzido e, em seguida, o original:
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A esmerada tradução brasileira:
“Tudo isso começaria de fato no dia 9 de janeiro, quando Dom Pedro I recebeu, indignado, as cartas de Portugal que pediam pelo seu retorno ao país para que completasse seus estudos. O futuro Imperador, que não era de meias palavras, recusou-se. Esse dia ficou conhecido como “Dia do Fico.” Desde então começou a implementar importantes medidas no país, o que incluía deportar as tropas portuguesas de volta à Portugal, afim de estabelecer a hegemonia de armas brasileira.
No dia 7 de setembro de 1822 voltava de Santos, onde teria ido verificar as inúmeras fortificações do porto, quando encontrou, na colina do Ipiranga, os mensageiros de Portugal. Eles traziam-lhe uma carta na qual a Corte Portuguesa intimava-o a voltar, a qualquer custo.
Revoltado com toda aquela petulância, Dom Pedro sacou a espada num incrível ato de heroísmo, que marcou os anais da história, e esbravejou com bravura:
“Independência ou Morte!”
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O texto original de Portugal:
“Tudo isso começaria de fato no dia 9 de janeiro, quando Dom Pedro I recebeu, fulo da vida, as cartas de Portugal que pediam pelo seu retorno ao país para que completasse seus estudos. O futuro Imperador, que não era bobo nem nada, mandou-os à merda. Desde então começou a implementar importantes medidas no país, o que incluía chutar o cu das tropas portuguesas de volta à Portugal, afim de estabelecer a hegemonia das carabinas brasileiras.
No dia 7 de setembro de 1822 voltava de Santos, onde teria ido verificar as inúmeras deficiências do forte portuário, quando encontrou, na colina do Ipiranga, os lambe-ovos de Portugal. Eles traziam-lhe uma carta na qual a Corte Portuguesa intimava-o a voltar, nem que fosse à base de cintadas.
Sem ter mais culhões para agüentar aquela orgia desgraçada toda, Dom Pedro sacou a espada em um incrível ato de inabilidade, que marcou os anais do cavalo, e berrou todo nervosinho:
“Ou tira logo o cu de cima ou caga na cabeça de vez!”
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