Destino

Meu encontro com meu caminhoneiro deu-se em um bar só por eles freqüentado.

Lugar barra pesada.

De vozes altas, de cheiro de perfume barato misturado com o da fritura e óleo diesel .

Ele entrou nem notou minha presença, mas eu não tive duvidas que seria dele e que com ele iria pra estrada e no aconchego da sua cabine eu consumiria minha vida!

Já tinha visto esse filme,.

Já tinha sido testemunha de outras vitimas.

Sabia que se eu fosse, jamais voltaria!

Era de praxe.

Mas era de praxe também , não reclamarmos.

Nos deixarmos apanhar por esses valentes da estrada e em silencio rendermo-nos aos seus caprichos, gostos extravagantes e ao nosso destino.

E era meu dia!

Cada fibra do meu corpo dizia que esta seria a minha viagem.

Que este seria o meu dia.

E que eu seria hoje sua escolha!

Sentou-se a uma mesa afastada, pediu a cerveja e uma porção de frios, afff. ...um arrepio percorreu meu corpo; sabia que naquele, “frios”, eu me esquentaria e já sonhei servir cada pedacinho em sua boca de riso curto.

Nem tomei a garçonete, loirinha de curvas perfeitas e, pouco escondidas, como concorrente.

Sou mais eu!

Por mais regimes que ela fizesse, jamais teria um corpo tão fino como o meu!

Que me importa seus seios e bunda??

Duvido se não entro naquela cabine leito essa tarde !

A lourinha que fique curtindo seus cabelos de água oxigenada e cheiro de fritura!

Eu vou-me embora!

Sei que vou!

Chegou-lhe a cerveja e o petisco e....rsrsrsrsrsrs......eu estava na mesa ao lado, pra que palavras??????

Ele simplesmente esticou o braço, tomou o que ele queria; ou seja, a mim; e levou-me com a mão a sua mesa.

Juro que não falei palavra!

Eu já sabia que isso ia acontecer, desde o momento que vi o Bi-Treim de sete eixos estacionar no pátio do posto.

Desde a hora que vi ele saltar e sem camisa percorrer o caminhão inteiro, conferindo pneus e freios.

Desde quando ele escolheu a mesa do lado da que eu me encontrava sabia que o meu dia havia chegado!

Servi-lhe na boca cada pedaço de petisco em silencio!

Quando ele me fez acariciar-lhe os lábios eu já era dele!

Quando vi ele deixar o valor da conta na mesa e levantar-se sem olhar pra mim, até pensei que havia me iludido, que ficaria no abandono, mas senti sua mão forte pegando-me pelo meio e me levando pro lado do Bi-Treim, que reluzia no sol das 14:00 horas.

Sem uma palavra.

Sem um gesto de carinho.

Sem a minha preocupação de como eu estava me sentindo, sua mão me manuseou a vontade no trajeto e na cabine.

Sem muito carinho me jogou sobre a cama ao lado da poltrona do volante e funcionou o motor.

Soltou os freios estacionários; levou o monstro pra pista e eu, como um serzinho pequeno e calado na cama esperando sua decisão, sua vontade, mas sonhando que ele esticasse o braço e me tocasse!

Que me desse atenção.

Que demonstrasse que eu tinha alguma importância!

E por fim, após retirar novamente a camisa, vi aquele braço longo, peludo e forte vir em minha direção e como se eu não pesasse nada me levou junto , pra junto dele ao volante.

Não sei quantos quilômetros fizemos juntos com ele calado, pensativo.

Me fez maleável, me amoleceu, me dobrou e eu me curvei conforme seus desejos no cheiro da cabine perfumada.

Dividi com o cigarro a atenção dos seus lábios e confesso venci a disputa.

Fui objeto de brincadeira em sua boca.

Escurecia quando vi a seta ser acionada o que indicava que ele ia parar, que ia se preparar para o pernoite e eu que já reinava na cabine, em suas mãos , em sua boca, fazia perguntas de qual destino teria a noite com o caminhão parado e ele tendo todo o tempo e atenções só pra mim.

Vi ele apanhar a toalha os apetrechos barbear e de higiene!

Separar a roupa da noite, ainda lembro, um short escuro com detalhes e uma camiseta branca de marca vagabunda.

Nem liguei; era “O meu caminhoneiro”, eu não me importo com grife embora eu tenha sempre sido da Gynna!

Saímos juntos rumo aos chuveiros.

Não se importou com os olhares que nos dirigiam.

Nem fez questão de ver se eram de inveja ou de reprovação.

O chuveiro, ai meu Deus; já pertinho!

O sabonete a água e ...eu e ele!

Na porta dos chuveiros, do lado externo, um tambor desses de 200 litros, que fora de graxa um dia, era usado pra se jogar o lixo.

E ele, o “meu caminhoneiro”, sem me olhar, sem o mínimo gesto de carinho ou consideração pelas centenas de quilômetros que o servi; me atirou lá dentro.

É triste ser apenas um PALITO DE DENTES!

JJ Braga Neto
Enviado por JJ Braga Neto em 12/05/2010
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