INÊS DE NÊGA - Causo Matuto - Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - Natal-RN - Ed. de 12 de dezembro de 2009
Hoje eu tava aqui matutando sobre o que deveria mandar como matéria para o Cantinho do Zé Povo; e me lembrei de um “figuraço”, parte do meu passado de criança e adolecência; e que ainda hoje, vez por outra me encontro, quando vou matar a saudade da minha gente querida lá da Malhada de Roça, no município de São João do Cariry-PB. O “figuraço” é INÊS DE NÊGA! Eu ir à Malhada de Roça e não tomar o café que ela faz, é mesmo que eu não ter ido até lá... Dona Nêga, a mãe dessa “fábrica de fazê maimota”, era uma pessoa muito amiga de minha mãe; e quando mamãe estava por lá pela fazenda, Dona Nêga, irmã de comadre Luzia (queijeira), sempre estava ajudando nos afazeres da casa grande e “inchendo ais ôiça de mamãe cum uis presépe de papai”... E quando ía para a casa grande da fazenda, sempre levava Inês e seu irmão Sêbíin (Papa Sêbo), que a exemplo de sua irmã Inês; “era o sumo da merda do cachorro qui come bosta...). Nóis se ajuntava e “pintava o sete e bordava o oito”; era todo tipo de munganga e presépe que se possa imaginar. Os dois foram crescendo e Sêbíin danô-se prá Sumpaulo, enquanto que Inês continuou “batendo perna e outras coisas mais,” lá na Maiada velha de guerra. De Sêbíin, eu não soube mais notícia; mas da peste da Inês, graças a Deus “eu num perdi o rasto”... E tanto é, que cascaviei nas prateleiras da memória e encontrei um dos seus presépe mais autênticos, verídico e que para mim, que a conheço muitíssimo bem, leva sua marca registrada. Presépe esse, que inclusive já publiquei, logo que comecei a usufruir desse maravilhoso espaço que Dr. Marcus Aurélio de Sá me franqueou há mais de sete anos atrás e que hoje relembro aos meus queridos leitores e leitoras. Inês sempre foi “bôca de latra”; dizia o que via e o que não via, também... E quis o destino, que uma jovem que já “chimbava com gatos e cachorros”, engravidasse. E seus pais, arranjaram logo um bêsta para “pagar a fava qui o boi cumeu”... O namorado da “donzela”, foi acusado de estrupo e levado à justiça, no Fórum de São João do Cariry-PB. Só que as testemunhas eram de “ouvir dizer”; mas por arte do “sapirico”(o demo...), Inês foi a única testemunha ocular do “pseudo defloramento”. Intimada a comparecer ao Fórum, no dia da audiência, lá estava ela vestida com sua melhor roupa, coberta de “Pó La Bâte, Prefume Royal Briá e ôtos bicho”. Na calçada do Fórum, já cumeçô a munganga. Inês, num pé e no outro, via as testemunhas entrarem para serem interrogadas; e ninguém a chamava. Aí perdendo a paciência, vociferou:
- Ôxe; e num vão me chamá não ? Logo eu qui ví o presépe tôdíin ?!
O Promotor, que passava por alí, chegou educadamente e indagou:
- O que está havendo; alguma testemunha deixou de ser ouvida ?
Inês pinotou:
- Eu; ví a fulêrage tôdinha, e ainda num me levaro lá prá dento; ispíi aqui o papé qui mandaro lá prá casa!
O Promotor pediu a intimação, leu e falou:
- É verdade; nesse processo de defloramento, como testemunha, você foi realmente
arrolada!
Aí, meu fíi; Inês “barreu da quenga”:
- Rôlada ? Eu mêrmo num fui rôlada não sinhô; a rôlada quem foi, foi essa aí; qui passa p’ru môça e num tem cabaço mais nem nuis zói, mode qui já chorô munto e nem nuis zuvido, mode qui aja ôiçô o qui num divia ôiçá!...