O Espirito da Candinha
Hoje eu falei com a Candinha,
a velha professorinha,
do meu cursinho primário;
claro ,pela idade minha,
essa conversa só pode
ter mesmo acontecido
por meio de um pai de santo
-um baiano conhecido-
porque a Dona Candinha,
-coitadinha-
há muito já tem morrido.
Candinha tava assustada
diz que depois que morreu
lá do Senhor recebeu
a penosa incumbência
de proteger professor
que era um ato de amor
da Divina Providencia.
.
Ela que era bondosa,
lembra o quanto eu tremia
pra levar o boletim
pro meu pai quando era o dia
e de como ele cobrava,
-não raras vezes batia
se nota eu não tirasse-;
e se acaso ela contasse
as coisas que eu aprontava
só se a Virgem Maria
aparecesse eu não apanhava.
E eu era até levado,
ia de estilingue pra escola
as pedras, todas de barro,
eu levava na sacola
sujando meu material,
mas esse todo era o mal
que de moleque eu fazia;
E alguma outra travessura
coisa da inocência pura
que a Candinha repreendia.
Mas se acaso eu continuasse
la vinha puxão de orelha
e a coisa ficava feia
se ao meu pai ela contasse!
Mas agora o treim mudou
e isso ela percebeu
quando numa sala entrou
cumprindo ordem de Deus
e o que viu Dona Candinha,
fez os cabelos do médium
-que o “espirto” recebia-
esticarem-se pra cima
como que feito chapinha
um ouriço parecia.
Diz que ela entrou numa sala
sem ninguém ver e invisível
-já que espírito é seu estado-
e deparou com uma cena
que fez ela sentir pena
de um professor desgraçado
que ali tentava ensinar;
uma turma de “anjinhos”,
que estavam comportadinhos
conforme pode narrar.
Um garotinho coitado
apontou com muito zelo
acertando uma pedrada
-que levantou galo feio
nos cornos da professora-;
Mas isso até foi normal
o que fez ela assustar
foi que depois a tal mestre
ainda levou processo
do Promotor regional;
Só porque nessa pedrada
-a desgraçada gritou
muito alto, pela dor-
E com isso, ela assustou
outro “anjinho” coitado,
que estava compenetrado
em furar um dos olhinhos
do coleguinha do lado.
Diz que ao fundo da sala
tinha outro que estudava
a melhor forma possível
de enforcar a coleguinha
que no chão ele esguelava;
Diz que seis, bem coordenados
debalde alguém acredite,
dois quebravam as janelas
com os cacos de vidros quatro
furava toda a galera
num bom trabalho de equipe
Eu expliquei pra Candinha
que essa é a nova forma
da educação moderna,
e ela me perguntou
se então era natural
Professor não ter governo
e somente a gurizada
ir comandando a baderna.
Me perguntou porque eles
não faziam como antes
soltando “catiripapos”
e alguns “pescoções” errantes
mandando chamar os pais
porque é assim que se faz
pra educação ir avante.
Eu de novo expliquei
que agora não se pode
nem mesmo encostar a mão
e se por acaso um
resolve bater no mestre
o que a lei aconselha
e que o mestre se ajoelha
e pra Deu reze uma prece.
Mas a Candinha se riu
falou: “ Eu quero só quero ver
quando os pais deles pegarem
e quiserem ver a nota;
ai eles vão saber
que o buraco é mais em baixo
torcendo o rabo da porca”!
Tive que dizer pra ela
que os pais de hoje em dia
só culpam os professores
pelas notas da suas crias
que se algum reprovar
o professor azarado
fica com a ficha suja
e vai se prejudicar.
pelo sistema adotado.
Eu expliquei sobre o ECA
-traduzido:Uma meleca
que rege a vida da gente-
tirou direito dos pais
e que eles não são mais
a ponta da hierarquia
de criança e adolescente
e o mundo virou anarquia
depois que essa putaria
aqui se tornou vigente.
Tive ainda que dizer
que o professor do momento
frente a tecnologia
-o tal desenvolvimento
em que estamos vivendo-
não pode acompanhar
porque o saldo que ganha
não lhe permite comprar
e o poder publico,falido
não pode patrocinar.
E terminei por contar ,
que em casa a professora
chega com dor de cabeça
-porque de segunda a sexta
vive na sala de horrores-
tem filho para cuidar
a roupa para lavar
marido para aturar
e mais alguns dissabores
mas que ela não reclama
e quando chega a noite
se não quiser levar chifres
tem que ser boa de cama.
Falei que eu tenho uma,
e sou amigo de outras
e sei o que elas passam;
que é um povo sofrido
um povo não compreendido
e nunca recompensado
não importa o que ele faça.
No baiano , meu amigo,
que recebia a Candinha
foi enrolando o cabelo
-já não tava de chapinha-
deu uma boa espreguiçada
e pediu uma pinguinha.
Candinha tinha ido embora
levando livro e caderno
e segundo o que me consta
-que me informou o baiano-
lá no céu pediu as contas
por ter descido no inferno