Festa no Velório

Festa no Velório

No dia que me pegar,

a danada que me espera

desde o dia que nasci

e gozando dela cresci;

abusando até da sorte;

e toda sorte de “cuéras”,

-a desgraçada da morte-

por favor não quero choro,

nem carranca de velório,

quero roda de viola,

botem cachaça na mesa,

é uma das coisas que imploro,

e chamem só os meus amigos,

-a poetagem inteira-,

e no tampo do caixão

quero que escrevam as asneiras

que eu comentei nessa vida;

minha vontade atendida

que inicie a bebedeira.

Se alguém tiver baralho

formem uma roda de truco,

por favor não joguem poker,

que esse é jogo de eunuco

tem que ter murros na mesa,

para espantar a tristeza

-dos cornos dos cobradores-

que parecem carpideiras,

lamentando as suas dores

chorando pelo terreiro

a sua sorte perfídia

e pela conta perdida.

Se alguém disser "coitado",

por favor, mandem embora,

pois fui de tudo na vida,

de sortudo a azarado

fui bonito e esgualepado,

bom de cama e até broxado,

levei tombo e dei pancada,

- fiz o que é bom e não presta-

e se agora, esticado,

me aparecer um veado,

pra me chamar de coitado;

mandem embora da festa.

Se acaso aparecerem

todas mulheres que amei,

façam fila no terreiro,

pois até nisso eu pensei

e que uma alma bondosa

apareça nessa hora,

-pra dizer que são leitoras;

e afastar minha senhora-

e que as pobrezinhas

possam extravasarem a raiva

comentando o meu passado

dar ponta-pé no defunto

berrando todos assuntos

que eu julgava enterrado!

JJ.Braga Neto

JJ Braga Neto
Enviado por JJ Braga Neto em 15/10/2009
Reeditado em 03/09/2011
Código do texto: T1867263