Festa no Velório
Festa no Velório
No dia que me pegar,
a danada que me espera
desde o dia que nasci
e gozando dela cresci;
abusando até da sorte;
e toda sorte de “cuéras”,
-a desgraçada da morte-
por favor não quero choro,
nem carranca de velório,
quero roda de viola,
botem cachaça na mesa,
é uma das coisas que imploro,
e chamem só os meus amigos,
-a poetagem inteira-,
e no tampo do caixão
quero que escrevam as asneiras
que eu comentei nessa vida;
minha vontade atendida
que inicie a bebedeira.
Se alguém tiver baralho
formem uma roda de truco,
por favor não joguem poker,
que esse é jogo de eunuco
tem que ter murros na mesa,
para espantar a tristeza
-dos cornos dos cobradores-
que parecem carpideiras,
lamentando as suas dores
chorando pelo terreiro
a sua sorte perfídia
e pela conta perdida.
Se alguém disser "coitado",
por favor, mandem embora,
pois fui de tudo na vida,
de sortudo a azarado
fui bonito e esgualepado,
bom de cama e até broxado,
levei tombo e dei pancada,
- fiz o que é bom e não presta-
e se agora, esticado,
me aparecer um veado,
pra me chamar de coitado;
mandem embora da festa.
Se acaso aparecerem
todas mulheres que amei,
façam fila no terreiro,
pois até nisso eu pensei
e que uma alma bondosa
apareça nessa hora,
-pra dizer que são leitoras;
e afastar minha senhora-
e que as pobrezinhas
possam extravasarem a raiva
comentando o meu passado
dar ponta-pé no defunto
berrando todos assuntos
que eu julgava enterrado!
JJ.Braga Neto