Medo de avião - quem tem? E de turbulência... ?
Fazendo a rota São Paulo - Belém, com oito escalas via Mato Grosso, pegamos uma dessas turbulências. Foi minha nova experiência depois de uma dezena de vôos, mas também foi minha primeira e última porque nunca mais fiz aquela rota.
Eu estava na janelina, minha mulher no corredor e meu filho de quatro anos no meio. Mais ou menos na altura do Maranhão recebemos a solicitação de apertar os cintos com a informação de que o avião enfrentaria uma área de turbulência.
" - O que é isso, perguntou minha mulher?"
" - Nuvem carregada ou qualquer coisa assim..." - respondi.
" - É perigoso?"
" - Não sei, vamos descobrir agora."
" - Ai, Meu Deus!"
" - Calma, muita calma nessa hora!"
Nunca tive medo de avião, minha mulher tinha, meu filho não sabia porque deveria ter. Qdo o avião começou a trepidar, ela começou a rezar baixinho e a chamar pela mãe. Eu a tranquilizava como podia, mas comecei a ficar preocupado também ao ver as aletas da asa direita (eu estava bem ao lado dela) batendo sem parar.
Eu não sabia o que era aquilo (santa ignorância!) e me pareceu que a fuselagem da asa estava se soltando. Chegando em casa fui direto à Enciclopédia Tecnológica e descobri todas as partes de um Boing 737 - fiquei sabendo, inclusive, que uma parte dele é montado na Inglaterra e outra na França, além de outros detalhes que não vem ao caso agora... Fiquei sabendo, também, para que serviam aquelas peças soltas nas asas (tá vendo só, turbulência também é cultura!)
O avião pulava feito um cavalo bravo e o silêncio era sepulcral - se caísse uma pena de ave provavelmente ouviríamos sua queda no assoalho. Mas quando o aparelho começou a chacoalhar de verdade, parecendo que ia se arrebentar todo, a gritaria generalizada transformou o ambiente num inferno.
Quando finalmente saímos daquelas escuras nuvens e divisamos o sol, e a aeronave se estabilizou, e todo mundo tirou os cintos... a fila indiana que se formou para o WC me dizia qual era realmente a dimensão do estrago!
Experiência inesquecível - agora sei, por experiência própria, o que é na prática a tal de turbulência! Meu filho, coitado!, ainda não sabe. No fim, quando tudo já estava calmo, e seus olhos não estavam mais arregalados por toda aquela confusão, perguntou:
"- Pai, por que é todo mundo só gritava: Meu Deus!, Meu Deus!, Meu Deus! ?"
" - Acho - disse-lhe eu - que é porque ainda não aprenderam a rezar direito!"