CONFISSÃO DE UMA MATUTA NO MATO...-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Edição de 20 de junho de 2009
Meu saudoso pai, João Francisco da Motta, costumava dizer que “em terra de sapo; de cócoras com êle”!... E meu velho tinha sobradas razões para me dar esse ensinamento; se não, vejamos. Eu tiro por mim mesmo. Desde criança, quando meu pai me levou para suas propriedades no Cariri paraibano, assimilei os costumes, a linguagem, as virtudes e “uis presépe” da minha gente querida daquela região. Isso, quando era tudo feito e/ou falado sem a menor maldade, com a maior naturalidade possível, o que causava e ainda causa até hoje, muitas risadas nos visitantes ou em quem tem a oportunidade de escutar ou ler as coisas do meu irmãozinho matuto. Por isso é que do mesmo, eu tenho um orgulho “do tamãe do meu bucho”... Digo por experiência própria, que qualquer um que tiver a felicidade de viver e/ou conviver com essa gente, finda se virando num deles. E foi o que aconteceu com o padre, personagem do “causo fictício” de hoje, que é fruto da imaginação e da fantasia, do outro matuto que o criou (o causo...). E como não se tem notícia registrada da autoria do mesmo, o causo se torna “de domínio péblico”. Na época em que eu vivia batendo perna por aquela região castigada durante a seca e esperançosa quando batia o inverno, nas pequenas comunidades, nos pequenos povoados onde havia apenas e tão somente uma capelinha, as missas eram uma raridade; e quando se tinha notícia que haveria uma missa, o acontecimento se transformava numa festa para aqueles simplórios brasileiros. A movimentação começava muitos dias antes, e na véspera da missa, o celebrante já passava o dia inteiro “confessando” os fiéis. E esse padre, personagem do causo, era o que se pode chamar de “um matuto de cátedra”; sabia de absolutamente tudo em termos de matutagem e de fuleragem de matuto. “Era dos meus”!... E na véspera da missa, durante a confissão, se passou algo inusitado em termos de pecado, para os padrões da época. Chegou uma mocinha, ajoelhou-se no confessionário, e com a timidez de uma moradora da localidade “sem rádio e sem nutiça dais terra civilizada”, mas de maneira firme, quando o padre lhe perguntou quais eram seus pecados, ela falou:
- Padre, eu fiz “sexo anal” com meu namorado!
- ? ? ? Como, minha filha ? Repita, por favor.
E a mocinha, começando a ficar nervosa, repetiu:
- Eeeeeeuuuu fifififiz sesesexo aaaaanal cococom mememeu nnnamomoraaaado!
O padre, fazendo uma cara de espanto que estava muito longe de sentir, exclamou:
- Vixxxxeeee!
E a mocinha, ao ouvir a exclamação do padre, levantou-se sem que êle visse, enquanto o padre, com a cabeça entre as mãos, pensava numa penitência para lhe dar. Nesse intervalo, quando ela se levantou, uma véínha se ajoelhou exatamente na hora em que o padre se decidiu por sua penitência. E, se virando de frente para a portinhola do confessionário, perguntou:
- Minha filha, qual é a sua idade ?
A véínha, “inocente de pai e mãe, sobre o que estava acontecendo”, respondeu com voz trêmula e dificultosa:
- Noventa e quaaaaato!
Aí, o padre, “barrendo da quenga” (encolerizado), vociferou:
- E não tem vergonha; dessa idade, dando o raaaaaabo ?!...