ZÉ CAGÃO...- Causo real, matéria do Cantinho do Zé Povo-O JORNAL DE HOJE- NATAL-RN, edição de 28 de março de 2009
Perdoem-me, queridos leitores e leitoras. Longe de mim, a pretensão de afrontar quem quer que seja com o título da matéria de hoje; mas não há outro jeito de fazer referência a esse indivíduo. Era uma figuraça estupidamente maravilhosa! Jamais tive conhecimento, nem em sonho, do nome que recebeu na pia batismal... Quando não tinha com quem mexer, “mixia cum êle mêrmo”, só para ouvir “as gaitadas e resenhas” do que havia feito... Morava na Cidade da Esperança, desde que a mesma foi construída. Quando o conheci, já atendia por essa alcunha bastante sugestiva, cuja “maneira como a conseguiu”, foi por mim passada para o saudoso escritor Zé Cavalcante, seu Zé, em 1973; e mais tarde, publicada num dos 23 livros que esse monstro sagrado da cultura popular nordestina nos deixou publicados. Hoje faz parte do repertório do meu amigo Nairon Barreto, Zé Lezíin, como protagonizada pelo seu personagem Vicente. Pois bem! Todo fim de tarde, começo de noite; lá mesmo na Cidade da Esperança, “batíamos ponto” no Bar do saudoso Assis, que era motorista do então Governador, Dr. Lavoisier Maia; e que atendia pelo apelido de “Peruca Prêta”, pelo fato de pintar o cabelo para parecer mais jovem. Quando não estávamos aporrinhando a vida de Peruca Prêta e de dona Chiquita, sua esposa; estávamos no “Buteco de Raimundo Trovão e Dona Soturna”, sua esposa; local onde a “mundiça” também deitava e rolava... Mas, voltando ao apelido de Zé Cagão; foi devido ao fato dele ter ido ao Posto de Saúde (que naquela época funcionava...) e o médico ter lhe solicitado um exame de fezes. Zé Cagão, ao chegar em casa, simplesmente tirou o rótulo de uma lata de Leite Ninho vazia, encheu a lata totalmente com as fezes e levou para o laboratório, lá mesmo no Posto de Saúde. Quando entregou à mocinha do balcão, também meio “istabanada”, a mesma escandalizou:
- Êêêêiiiita; “num é aloprado nadiiiiiinnnnnha”! Bote pelo menos o nome na lata.
Aí, êle, pegou um papel e um lápis que tinha em cima do balcão, escreveu o nome BOSTA e colou na lata... Quando chegou lá em Peruca Prêta e contou o fato; Agamenon, o famoso “Peixe Agá”, que ainda hoje mora lá, “na rua Encanto no. 24”, mestre em colocar apelido nos outros, sentenciou solenemente, sob o silêncio, a atenção e os olhares atentos que os biriteiros presentes, lhe dispensavam naquele momento:
- À partir de hoje você vai ser chamado de “Zé Cagão”!
E Zé, num pinote, respondeu:
- Zé Cagão é a P.Q.P!
Foi uma algazarra das maiores, o bastante para o apelido “pegar” e acompanhar o dono até à morte, que aconteceu algum tempo depois desse episódio, precocemente, diga-se de passagem, devido à ingestão desenfreada da “marvada”... Mas, nosso personagem tinha um ímã para fuleragem... Certa feita, a esposa dele o mandou fazer um pagamento lá na cidade. A Cidade da Esperança não tinha uma única rua calçada nessa época. A avenida nove, onde hoje é a Rodoviária, era um areal só; parecia Mangue Seco da novela Tiêta. Só se encontrava calçamento quando se chegava à altura da Av. Bernardo Vieira. E a mulher do peste, conhecendo “a peça que tinha dentro de casa”, sentenciou:
- Você vai fazer esse pagamento, mas não vá beber não. Quer saber; eu vou botar uma dúzia de ovos numa sacola plástica e você tem que ir e voltar com esses ovos intactos. Se chegar um único ôvo quebrado, eu juro como lhe enforco...
O peste foi, fez o pagamento; e quando pegou o ônibus de volta, sentou numa cadeira e colocou a sacola com os ovos na cadeira ao lado. Nesse momento, o ônibus para, entra uma réca de estudantes; e uma das jovens sentou-se mesmo em cima da sacola com os ovos. Foi clara misturada com gema prá tudo quanto é canto. Zé Cagão apavorou-se:
- Eita; dessa vez eu me lasquei; você sentou em cima dos ovos, quebrou tudo e eu vou pagar o pato. Quando eu chegar em casa, minha mulher vai pensar que eu bebi e vai me enforcar do jeito que me jurou.
A menina, aperreada por ter quebrado os ovos e com dó de Zé Cagão, devido à sua ladainha; perguntou surpresa:
- Pelos ovos ?
- Não, minha fia; pelo pescoço!...