O INCRUZAMENTO DA JUMENTA - Poema Matuto
Dois sujeito munto amigo,
numa fêra a cunversá,
um assim falô p’ru ôto:
Foi inté bom nóis se incrontá.
E o ôto; ôxe; é assim ?
Tá precisando de mim ?
Nóis resóive, é só falá.
Cumpade, é minha jumenta,
qui no só quente ô no fríi,
é se mijando direto,
se infrega no próprio fíi;
quero butá ela, intão,
cum seu jegue garanhão,
mode num perdê o cíi.
Pois amenhã de menhã,
cumpade; eu vô lhe isperá,
cum cachaça e tira gôsto,
na latada do quintá.
Nóis toma uma cum pirão,
dispôi bota o garanhão,
cum a jega, mode incruzá.
No dumingo logo cêdo,
ô de casa, meu cumpade ?!
A jumenta tai fora,
se mijando de vontade.
Suiprêso, má pôde crê,
qui quem vêi lhe arrecebê,
foi sua própria cumade.
Cumade, cadê cumpade ?
Foi ali, mais vorta já.
Entre, sente, tome uma,
qui de rôpa, eu vô trocá.
Eu num me demoro munto;
prá butá uis bicho junto,
eu mêrma vô lhe ajudá.
Meu patrão, daí a pôco,
lái vem cumade Raimunda,
bruza má abutuada,
c’uma abertura profunda;
se amostrando a toda hora,
cum uis peito quage de fora,
e ais buchêcha da bunda.
Lhe chamô disinimbida,
e êle, cum má intenção,
foi mais ela p’ru currá,
donde tava o garanhão.
Cum o ato pura metade,
êle, oiando prá cumade,
fêiz a insinuação.
Cumade, inté o bicho bruto,
sabe qui a fême é fogosa.
Isso qui eles tão fazendo,
qui coisa maraviósa ?!
E ela, surrindo, intão,
sem quaiqué inibição,
lhe arrespostô toda prosa.
Cumpade, se você tá,
dêsse jeito e num se agüenta,
faça logo aiguma coisa,
se não você se arrebenta.
Nem precisa se acanhá!
Se quizé, pode trocá,
de lugá cum a jumenta!...