O DOMADÔ DE MOTOCICRETA - Causo matuto - Verídico.
O causo que estou passando para vocês no dia de hoje, o Cantinho do Zé Povo foi “garimpá nuis aipende da casa grande” da Fazenda Pitombeira, do meu amigo e sobrinho por afinidade, Marcus Nepomuceno, durante a III Pega de Boi No Mato. E me foi passado pelo meu querido amigo, poeta e declamador Almir, primo do meu parceiro Rossine Cruz, e a exemplo do mesmo, conterrâneo do prá lá de saudoso DURUCA, lá da cidade dos verdes canaviais, nossa querida e acolhedora Ceará Mirim. O personagem do causo, ainda vivo, é “Quinca de Xavier Teixeira”, matuto, irreverente, brabo, e grosso qui só cano de passar tolête, lá das bandas de Cerro Corá... Pois bem! Segundo me contou o Almir, Quinca é daquele cara que é capaz de entrar na caatinga totalmente nu, “mode num rasgá a rôpa”... E numa tarde, estava êle, nosso personagem, no alpendre de sua casa, quando chegou seu irmão Antôin Petéca numa moto “trail”, fora de estrada, “braba qui só burra mula qui nunca levô sela”... E entre uma “leroada” de cachaça e outra, Antôin Petéca, “rim qui só a palavra têje preso”, virou-se para Quinca e provocou:
- Ô Quinca; tu tinha corage de imburacá no mato nessa bichinha ?
E Quinca, de imediato:
-Ora mais se não; eu num sô acustumado a amansá todo tipo de animá ? E pruquê é qui eu num tiria corage de infrentá essa “ixtrovenga” ?
E seu irmão, que nem um palhaço, cuja alegria é ver o circo pegar fogo, continuou na provocação:
- Vamo fazer uma apostinha ? Eu me responsabilizo puro qui acuntecê cum a moto; só num me responsabilizo puro qui acuntecê cum você...
E Quinca, depois de “passar prá dentro mais uma meiota de cachaça”, falou para o seu irmão:
- Me insine cuma é qui se dirige êsse tróço, qui o inqulíbro eu já tenho, mode qui eu ando de bicicreta há munto tempo.
Antôin Petéca lhe deu as instruções, e quinca, do jeito que estava, de bermuda, chinela japonesa e sem capacete, montou na motocicleta, deu três voltas no pequeno pátio, fez sinal de positivo e imburacou na caatinga, por entre as juremas, unhas de gato e outros bichos, e só se ouvia era o quebra quebra e o ronco da motocicleta... E aí calou-se tudo! No silêncio inquietante, resolveram entrar no mato e procurar Quinca... E o encontraram todo arrebentado e a motocicleta trepada num tronco de jurema preta... Quinca foi levado para o hospital de Currais Novos, onde levou “uma porrada de pontos” por quase tudo o que é lugar do corpo, ficando internado. Três dias depois, Almir foi visitá-lo no hospital, e Quinca fez o seguinte comentário:
- Mais Almir, rapaiz; eu sabia qui minha muié gostava da “mió brincadêra qui Deus dexô prá pobre”, mais nunca vi uma muié tarada qui nem ela; eu aqui todo custurado, todo réiado, gemendo e ais vêiz chorando de tanta dô, e a peste vêi me visitá; a prêmêra coisa qui fêiz foi oiá debaixo do lençó, p’ro meu entre perna e dizê cum a cara mais sevéigonha desse mundo: INDA BEM QUI PURAQUI NUM TÊVE NADA DEMAIS!...