A ALÊJADINHA TARADA...-Causo Matuto Real
Segundo Mário Trezena, Mário Véio, que foi vaqueiro de meu pai e hoje mora na minha querida Boa Vista-PB, “quando Deus máica um, é mode num perdê de vista”... E o peste do Mário Véio está coberto de razões ao fazer essa afirmação, pois, coincidência ou não, a maioria dos deficientes físicos que conheço e/ou conheci, o que lhe foi tirado no físico, lhe foi dado em dobro ou em triplo, em termos de fulêragem; uis peste são “qui nem peito de hôme; num tem séivintia ninhuma”... Assim é nossa personagem principal, a “estrela”, por assim dizer, do causo verídico de hoje, que me foi contado por Bené, irmão de Rossine da Budega Véia e conterrâneo do meu querido e saudoso amigo Duruca. Bené trabalhou na SUCAM e anotou na sua mente, tudo o que é de presépe que se passou durante sua estada na cidade de Touros-RN, onde morava a “alêjadinha”. Dela, pouquíssima gente sabia o nome e era conhecida na comunidade como “Tonha Torada”, por ter, de nascença, as duas pernas decepadas entre os joelhos e o tronco... Bonita de rosto, corpo normalíssimo até onde havia a anomalia, andava numa cadeira de rodas e começou a ser assediada pela “mundiça de cabra ruim”, até que um mais afoito que os outros, “passou a chibata na alêjadinha”... E a danada, depois que “provô da fruita, se aviciô” e não parou mais de fazer a “brincadeira de pobre”... Trepava “c’ais mão na cabeça, mode num sartá o juízo”!... E a rapaziada do pedaço parece que aprovou seu desempenho, pois “traçavam” a deficiente nos lugares mais inusitados possíveis; a pobre “levava mais vara do qui chiquêro de marreca”... A turma da SUCAM, todo meio dia, tinha que atravessar um campo de futebol para ir almoçar na casa de seu João, que tinha um sitio atrás de sua casa, onde tinha um verdadeiro pomar e uns leirões de batata da melhor qualidade. O velho, além de ignorante, era por demais avarento, daqueles de “mergulhar numa piscina com um sonrisal na mão e não escapar nenhuma bolha”... Num dos almoços, um triste de um dos caras da SUCAM, falou para seu joão:
- Seu João, o senhor está sendo roubado; estão roubando seus côcos.
- É possível ? Vô pastorá êsse fíi de rapariga qui tá me roubando...
E passou a dar plantão quase toda noite, no pequeno sítio atrás de sua casa. Até que numa determinada noite, quando êle foi chegando, avistou a uns vinte e cinco metros, no “lusco fusco” da lua nova, um cara só de cuécas, colocando algo num saco daqueles antigos, nos quais se armazenava açúcar... E apontando a espingarda “suvaquêra”, daquelas de carregar pela boca do cano, o pretenso ladrão já com o saco nas costas, alarmou:
- Ladrão sevéigonho, eu sabia que lhe pegava; pode dispejá meus côco no chão se num quizé qui eu lhe leve prá delegacia agora mêrmo.
- Seu João, o sinhô tá inganado; isso aqui num é seus côco não.
- É sim e quero vê agora.
- Já qui o sinhô qué assim, vô lhe prová.
E ato contínuo, levantou o saco pelo fundo... Ao despejar o conteúdo do mesmo no chão, seu João teve um tremendo susto, pois do saco, saiu a “alêjadinha” totalmente sem roupa, ainda ofegante pela “surra de madeira” que tinha levado, falando prá êle:
- O sinhô é um peste; atrapaiô tudíin mêrmo na hora que eu tava cumeçando a rivirá uis zóio!...