MUNGANGA DE CONSULTÓRIO - Causo Matuto Real
Muita gente me pergunta onde eu arranjo tanto causo prá contar e eu lhes respondo que os mesmos fazem parte das minhas andanças de outrora e de hoje. De outrora, nos caminhos tortuosos e gostosos da boemia bem como da minha vivência na Universidade do Roçado, onde tive o vaqueiro como professor e o matuto no geral, como o Magnífico Reitor. Mas também tive na cidade, os ensinamentos de incomparáveis mestres e/ou companheiros de brincadeiras e peregrinações prostibulares. Quantas vezes não fui à feira das Rocas na segunda feira e voltei com o gravador cheio de mungangas reais, passadas nas casas de luz vermelha da famosa Rua São Pedro ?! Outras vêzes, ia passar quase a noite toda nos plantões da antiga Delegacia do DOPS, na companhia dos meus amigos delegados, os saudosos Dr. Hernane Hugo e Tenente Belmiro, onde também recheava o gravador com uis presepes inerentes àquela especializada. Mas a estória de hoje, é causo real, e passado no Pronto Socorro do Hospital D. Pedro II, em Campina Grande-PB. Quem me contou foi um saudoso mestre da cultura popular, Givaldo Malaquias, que além de motorista do caminhão e vaqueiro, era um verdadeiro “melé ou faz tudo”, na Fazenda Pocinhos, quando a mesma era propriedade de meu pai. Havia uma mulher, de nome Maria, que lá era conhecida como Dona Maria Rôdo, que tinha uma porrada de filhos. Era moradora de meu pai, e prestava serviços na lida diária da fazenda. Quando não estava no “êito” (trabalho no roçado). Fazia juntamente com seus filhos, colheres de pau, que eram vendidas nas feiras de Boqueirão-PB, Cabaceiras-PB e/ou Boa Vista-PB. Pois bem; uma das filhas de Maria Rôdo, uma jovem no esplendor da beleza selvagem dos seus aproximadamente quinze anos de idade, foi acometida de uma dor súbita, no “pé da barriga", e quando estávamos todos à mesa de jantar, chega Maria Rôdo apavorada pedindo socorro. Papai, imediatamente mandou que Givaldo fosse levar a menina ao médico, em Campina Grande, distante 120 quilômetros dali. E lá se foi Givaldo, na companhia de Zuríin, um fazedor de porteiras que resolveu dar esse passeio. E segundo Givaldo, a jovem gemendo o tempo todo da viagem, quando chegou ao Pronto Socorro, foi logo colocada para ser atendida na frente dos outros que estavam e melhor situação. E o médico, rodeado de acadêmicos, perguntou solícito à menina:
- Diga, minha jovem, o que é que você está sentindo ?
- Dotô, é uma dô mais disinfeliz dêsse mundo aqui no pé de minha barriga; será qui num é a tá da “apêndis” não ?
O médico, espantado com o auto-diagnóstico da matutinha, lhe perguntou:
- Minha filha, você estuda ?
- Istudo no Grupo; pru quê ?
- Porque no Grupo Escolar ainda não se dá esse conhecimento todo; como você acha que é apêndice; onde é essa dor exatamente ?
E a vivência livre, descontraída e irreverente da jovem que perambulava pelas grotas, riachos e sombras de avelóis, falou mais alto quando ela respondeu ao médico:
- Ôxente, dotô ?!
E colocando a mão “sugestivamente” entre as pernas, explicou sem preâmbulos:
- É mode qui a dô é bem aqui, do lado isquerdo de quem entra!...