O PADRE E O PALAVRÃO

Antigamente, a idéia que se tinha de padre, é que era um sujeito irrepreensível; um verdadeiro exemplo de retidão para seus fiéis. Não que os padres de hoje não o sejam; mas os tempos são outros e a evolução (se é que assim pode se chamar...) nos obriga a aceitar coisas diferentes daquelas que nossos pais nos ensinaram no passado. Mas, antigamente, aqui acolá os padres soltavam suas imprecações, como todo e qualquer ser humano que se preza. E foi num desses momentos, que surgiu o causo que lhes repasso hoje; e que me foi contado pelo meu Mestre Zé Cavalcante, ex-Prefeito de Patos-PB (Seu Zé). Só lamento que as prateleiras da minha memória estejam tão desarrumadas, a ponto de eu não lembrar nem os nomes dos personagens e muito menos o nome do local, bem como da paróquia onde se deu o fato, pois como vocês todos (as) estão a costumados, sempre gosto de relatar o fato; quando real, nos seus mínimos detalhes, o que dá ainda mais autenticidade ao mesmo. Minha felicidade; é que quando relato um causo e o classifico como real, é cumo: “Se eu dissé qui a jumentinha morreu; pode tocá fogo na cangáia”... Mas vamos ao que interessa! O causo se deu no alto sertão paraibano, onde o padre, um alumão vermêio, dais buchêcha rosada, parecida um “pá de cunhão de touro holandês”, tomava conta da paróquia do município e das capelas dos distritos e povoados pertencentes ao mesmo. O padre, já há muitos anos radicado no sertão, já havia aprendido todas as artemanhas e presépe dos matutos, e tinha uma missa marcada para o sábado às três horas da tarde. Acontece que devido à unha encravada do seu dedão do pé direito, logo após o almoço, teve que ir ao posto médico, onde foi feito o tratamento, mas o pobre do padre ficou com o dedão dando aquelas “chuchada”, qui inté parecia qui o coração tava batendo debaixo de sua unha doente...Para encurtar a estória, quando o padre veio chegar na porta da capelinha onde a missa iria se realizar, já era uma cinco horas da tarde e o sacristão com ar de doido, andando de um caanto para outro, suspirou aliviado quando viu parar o jipe de aluguel e o padre descer do mesmo com dificuldade. E chegando bem junto do padre, “istabanadamente”, desembuchou:

- Padre, me diga puramô de Deus, o qui é qui eu faço cum o povo qui isperô o sinhô inté agora e já foi s’imbora ?

“O padre, cego de raiva e de dor, pois o sacristão havia pisado no seu “dedão podre enrolado com uma gaze”, perdendo a paciência e a compostura, vociferou no seu “alumês amatutado”:

- Vá tomar no raaaaaaaaaaaabo!...

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 06/09/2008
Código do texto: T1164813
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