Festa de Aniversário
FESTA DE ANIVERSÁRIO
“-Pedro. Sábado comemoro meu aniversário. Espero você no meu AP. Jura que não vai faltar”.
Tinha uma deliciosa programação para aquela noite. Tentei argumentar. “-Sabe... nesse sábado...”.
“-Não aceito desculpas. Vim aqui especialmente para convidá-lo. E quero você lá”.
Chefe é chefe. E não poderia contrariá-la.
“-Tudo bem” respondi, já resignado em fazer esse sacrifício.
Procurei chegar tarde. Encontrei o apartamento cheio. Música alta e barulhenta.
O uísque era o Black bomba. E dois garçons improvisados serviam bolinhos de queijo, concretinhos, coxinhas, quibezinhos e outras massinhas intragáveis. E, pão de bacia. Para quem não sabe é o fim do túnel: pão com carne moída.
Sabia que se bebesse como costumo e gosto, minha cabeça não me aceitaria na manhã seguinte. E se matasse a fome que sentia com aquela droga que estava sendo servida, meu estômago não iria sossegar sem uma dose maciça de antiácidos.
Quieto, com um copo de água mineral e gelo na mão, comecei a circular. Quem sabe encontraria alguém interessante.
Não fui feliz. O local estava infestado por mulheres gordas demais. Outras magras além da conta. Encontrei uma ajeitada mas com um mau hálito de derrubar sargento da ativa. Uma morena refestelada numa poltrona exibia despudoradamente seios enormes e grotescos. A seu lado uma branquela, esquelética, semi-embriagada.
Tentei os homens.
Encontrei a circular um garoto vidrado em musculação. Um vendedor de título de clube, chato como a peste. Um bobão enamorado agarrado na mulher. Dois fanáticos pelo PT. Um grupinho discutindo futebol. E, outro, mais à frente, que ria adoidado de ridículas anedotas pornográficas.
Estou liquidado, pensei com meus botões.
Procurei a aniversariante participando-lhe que precisava retirar-me.
“-De jeito nenhum. Vamos servir um delicioso macarrão a bolonhesa. E depois o bolo”.
“-Está bem”, respondi resignado.
Pouco depois fui brindado por um pequeno prato plástico de espaguete morno, guarnecido com grumos de carne moída nadando em extrato de tomate. Tinha gosto de papel.
Juro que não deu para comer. Meia hora depois, após o tradicional “Parabéns”, recebi um pedaço de bolo de chocolate macilento recoberto com creme de margarina com açúcar.
Sorriso nos lábios, pousei-o disfarçadamente no armário da sala.
“-Meu bem. Perdoe-me, mas amanhã devo levantar muitíssimo cedo. Preciso ir”.
“Tão cedo! Que pena! Acompanho-o até o elevador”.
Consegui chegar em casa.
Rapidamente servi-me de um honesto uísque. E pude relaxar.
Mas a fome era muito forte. Nada melhor, nessas circunstâncias, que um instantâneo macarrão japonês.
Separei dois pacotes, que um não bastaria. Abri uma lata de molho de tomate pelado italiano que amassei com as mãos e incrementei com quatro camarões graúdos.
Parmesão que ralei na hora e meia garrafa de vinho branco verde português.
Degustei aquela massa tranqüila e concentradamente. Deu para salvar aquela estúpida noite de sábado.
Domingo seria outro dia.