JACARÉ DO ÔVO GÔRO - Causo Matuto
O cenário é a Malhada de Roça, distrito de São João do Carirí-PB, localidade onde passei a maior parte de minha infância e “aprindí quage tudo dais munganga” que passo aos meus queridos leitores do Cantinho do Zé Povo. Mungangas que contribuíram; e muito; para o aumento dos cabelos brancos de minha mãe e daqueles mais velhos que “tiveram o privilégio” de ser aporrinhados por mim... E que também contribuíram para o meu acervo e meu objetivo de divulgar a cultura popular nordestina. Foi lá que eu aprendi que a melhor coisa do mundo é “aperriá véio e minino, mode uví disafôro”... Também foi lá que encontrei aqueles que despretenciosamente, me ensinaram tudo o que sei sobre a cultura popular nordestina. Foi lá que tive a felicidade de conhecer e conviver com Demazíin, o popular “JACARÉ DO ÔVO GÔRO”,neto do Véio Xanxo, dono do forró mais famoso daquelas cercanias, onde certa vez, coloquei pimenta do reino em grãos, no chão batido, e Zé de Bidú, o sanfoneiro; teve que parar o forró para aguar o salão, devido à espirradeira que deu no povo... No outro dia, bem cedo, lá estava na “cunzinha da casa grande” da fazenda Maiáda de Roça, Demazíin, o nosso Jacaré do Ôvo Gôro, me entregando a mamãe...Pois bem! E é desse “tróço”, Demazíin Jacaré do Ôvo Gôro, que o Cantinho do Zé Povo fala neste sábado, com um carinho imenso. De mim, ainda hoje o peste costuma dizer: “Num vale o qui o gato interra; mais é cuma se fosse irmão de nóis tudíin”! Inda hoje, quando chego lá, a briga entre êles é grande, para ver quem fica comigo em sua casa, isto, graças a Deus e ao amor que plantei no meio daquela gente simples e maravilhosa...E Demazíin, há umas três legislaturas passadas, inventou de inventar de se candidatar a vereador em São João do Carirí. E a mundiça, na sua totalidade, estava com o indivíduo. E bem pertinho da eleição, num dia de sábado, foi programado na Malhada de Roça, um comício de Demazíin. Colocaram vários tambores de 200 litros, daqueles de ferro, na frente do Bar de Xumira (Valdomiro, casado com Bibi de Sebastião Aritica...), Demazíin arrochou cachaça nuis cabra, e por volta de sete, oito da noite, subiu ao palanque improvisado, para fazer seu discurso e angariar os votos daquela gente. E no auge de sua oratória, deu uma do nosso mui saudoso Chico da Bomba, lá de João Câmara-RN, quando enfatizou:
- É, minha gente; nóis fala munto duis pulítico, mais a vida de pulítico num é fáci não sinhô! Prá vocêis vê, eu inda num sô pulítico, tô só in campanha mode sê vereadô, e já vi qui uis cabra sofre, e munto. Hoje purizempro, derna de demenhãzinha qui eu saí de casa, tumei uma chica de café pequeno e cumí um ôvo frito... Passô-se o dia, a tarde, entremo pura noite, e eu inda tô, êsse tempo todo, só cum um ôvo!
Nisso, Inês de Nêga, que é o “bagaço qui a póica chupô e o diabo injeitô”; gritô lá do mêi duis bêbo:
- E cadê o ôto, Demazíin ? Será qui tá gôro ?
E Demazíin, sem soltar o microfone, ajuntou:
- Tá gôro não; tá sendo chocado é debaixo da saia da tua mãe, quenga sevéigonha!...
E a gaitada geral, ecoou através das capoeiras ali existentes!...