FERREIRA, O MEU PAI.

Sou filho de pai velho. Quando eu nasci ele tinha 47 anos. Se não gozei dos eflúvios de um jovem pai, com cooper, natação e futebol, mas vivi à sombra de um cara sensato, estabilizado na vida, amante da literatura, do discurso e da ação social.

Fora político, presidira a câmara municipal de Gurinhém por vários mandatos, liderara o sindicato de trabalhadores rurais de Itabaiana, integrara a FETAG. No mundo social representativo envolvera-se tanto, que acabara com o seu casamento.

Antes dos movimentos sociais, a sua dedicação era com o aconselhamento. Conselheiro político, comercial e religioso. O que se pode chamar hoje de especialista coaching. Assim, a minha infância foi povoada das figuras mais díspares: visitava a nossa casa o banqueiro, o latifundiário, o político, as mulheres desesperadas, o trabalhador, o poeta, o profeta... E foi com essa riqueza vivencial que eu construí a minha compreensão e tolerância existencial.

Obrigado, papaizinho!