ZÉZITO
ZÉZITO
Eu tenho um gatinho, que podia muito bem ser um tigre.
E ele tem um Jorge, que podia muito bem ser um gato.
Só não sei se eu o entendo tão bem, como bem ele me conhece.
Esconde, esconde… é um ver que desaparece;
é um desaparece, que mais parece um desaparecer:
cega-me, com tal destreza, que ora o vejo, ora por si mesmo se merece.
Tem nome vulgar, coisa que em nada ele é…parece
um “Senhor”, que põe e dispõe, de minha simplicidade…
phs…phs…phs, vem ao pai, bichano…?! e o que é que ele tece?...
… espreguiçasse, a bom espreguiçar!, e só vem… quando lhe apetece!
Muito gosta ele de estar à janela, aprofundando a vista no imenso vazio.
E anda à caça de moscas, no vidro: mil torpecias, que o engrandece.
Água?... ah, ah, chora que se desunha, se vai a banho – entorpece.
Miau!... Miau!... Mia ele! E mete-me a unha na carne. Ai, Jesus, que dor!
Mais manso, enrolo-o num pano bem quente, e seco-o - o que ele agradece.
De manhã, com energia, para dar e vender, tudo estremece
à sua passagem. Põe-me os cabelos em pé, pois quase sempre me ilude - e sobe aos mais altos dos armários, para ver o que acontece,
vendo-me lá em baixo pequenino. Apesar de tudo vem até mim, se entristece:
Ou lhe falta a brincadeira ou a vontade de carícias, e de nossas conversas!
Vai para onde eu vou, antes de começar a dormir: e nunca se aborrece.
Eu tenho um gatinho, que ao pé dos outros, não desmerece.
Este, apesar de suas tropelias, é-nos leal e bom amigo…
Se adoecemos fica a nosso lado, horas e horas, até que o mal empobrece.
Jorge Humberto
19/04/2020
Santa-Iria-da-Azóia
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