JULIETA, TÁ! TÁ NOS AMANDO!
JULIETA, TÁ! TÁ NOS AMANDO!
(Homenagem a minha inesquecível Tia Julieta Costa Pereira: 1927-2012)
Quando a infância governava nossos sonhos e o campear pelos caminhos escorregadios e lamacentos, de barro vermelho amarronzado, e que guiavam os passos de todos os filhos dos migrantes do vale do Jiquiriçá, José Bento e Adélia, às bordas da Mata Atlântica, o mundo era tão simples e rústico que demandava um esforço sobre-humano para subsistir.
Ele, nascido em Ubaíra, morava em Três Morros. Ela, nascida em Jaguaquara, estava por esperar seu destino, de amor e respeito.
Lutando obstinadamente junto a Duda, para criar a família que formou, caminharam em harmonia daquela humilde fazenda, sujeita à sêca, para buscar novos horizontes em terras promissoras no meio dos cacauais.
E lá, na Fazenda Manguinho, vendo tudo que havia, construíram um lar, cercados pelos filhos e filhas, junto aos genros e noras e os netos que iam ganhando.
Era muita luta e, mesmo assim, cada família agregada foi plantado suas roças sem modo contínuo, ganhando respeito na região do Mineiro, que era um vilarejo ligado a Cairú e Ituberá, através do distrito de Tabocas.
Quando Tabocas foi emancipada, criou-se o município de Itamari, onde muitos descendentes ali nasceram e se estabeleceram. Dentre eles, sem desprezar aos demais ou aqui nomeá-los, casaram Julieta Silva Costa e João Antônio Pereira.
Julieta era aquela menina, nascida num oito do mês de maio, que sonhava se ver cercada pelo amor dos filhos e conseguiu seu intento. Foi matriarca e amada, espalhando simpatia a todos.
Com seu jeito sublime, macio e amoroso, sempre teve à sua volta o respeito de todos. Gostava de ver a casa cheia, fartura na mesa, aconchegando a todos, ninando os filhos, os netos e os bisnetos.
Deixou seu legado nesse mundo, e mais do que isso. Deixou a saudade como um visgo que não desgruda, como a gente comendo uma jaca sem antes passar óleo nas mãos. Ela foi esse visgo, que grudou na lembrança de todos nós que pudemos desfrutar da sua presença carinhosa, como se nos agasalhasse sob o seu manto ou sob o calor maternal de uma ave a chocar os ovos férteis.
E, ombreada ao seu amado João, nascido no dia dedicado ao seu santo de mesmo nome, o qual lhe foi como uma verdadeira árvore Pereira, que teve a força para poder nos saciar com seus frutos, como também o exemplo do mar, que misteriosamente alimenta a Costa de quem lhe margeia, arejando as nossas vidas, a vida dos Costa, impregnando a pele de nossas almas com a salinidade necessária ao tempero que a brisa do mar da vida salpica em nossas saladas, untadas com bálsamos de amor despretensioso de resposta, mas imantadas de energia positiva, que não devemos esquecer jamais.
Então, Julieta não se foi e não deixou de amar. Pra isso, Julieta está! E também por isso, Julieta, tá! Tá nos amando, eternamente! Pois viver o presente, é ter a certeza de um passado, que nos dá a bússola necessária para esperançarmos o futuro possível, que estaremos a construir paulatinamente, de acordo à renovação diária do nosso cartão magnético, que inserimos na máquina de cartões da vida e do existir carnalmente, digitando a senha com a qual se renova o direito de acordar e aqui estar.
Publicado no Facebook em 09/05/2018