Ao pai
Tristeza, rancor, figura de segundo plano. Lamento isso estar acima de seu papel. Eu tenho pai, e um dia serei um pai. Entendo bem porque isso se sobressai de qualquer outra imagem, mas é massacrante. Obvio que não tive um pai perfeito, sempre presente, da forma que histórias felizes representam, mas tive um ser humano que é meu pai e hoje sou feliz.
Passei muito tempo tentando provar coisas desnecessárias, brigar, planejar em derrubá-lo, em devolver tudo o que sentia, mas pouco o conhecia, assim tanto quanto o cobrava conhecer-me. Um egoísmo sem fundamento, sem lei, um motivo que considero fútil. O quanto desejamos tantas coisas serem da forma que não são e deixamos de ser felizes por não entendê-las e aceitá-las como elas realmente são é o real pecado.
Então, quando notei, comecei a entendê-lo como uma vida diferente, que do nada tornou-se responsável por outras vidas, e o quão difícil é subtrair-se de si mesmo e dividir o restante nos filhos, acobertar-se das migalhas que sobram e aplicá-las em planos de como manter estas outras vidas distintas no caminho que elas se quer sabem se querem seguir.
Ser pai não é, de forma alguma, tão diferente assim de ser mãe, é tão complexo quanto! Não passamos aquele tempo desenvolvendo uma vida dentro se nós, nem se quer temos ideias do que vem pela frente, só fingimos entender uma pequena parcela da responsabilidade porquê vimos em incontáveis histórias, ou porque chegou nossa vez cumprir este papel e passamos a vida inteira planejando como ser o pai perfeito. Entretanto, quando chega a hora do vamos ver, todos esses planos se dilaceram, da mesma forma como planejamos ter 18 e sair de casa.
E não importa tanto se é aquele pai que abandonou ou que está presente, é tudo pai de verdade. Pare pra pensar se aquele humano, se aquela pessoa, tem pelo menos um pingo de conhecimento do que tem que fazer, se ele sabe como abrir mão de sua própria vida para cuidar de outra, se ele sabe lidar com as frustrações da vida para seguir este caminho, se sabe e está preparado pra carregar este fado. Imagine o quanto é revoltante ainda ter que lidar com tudo isso e ainda escultar que não é necessário, que não faz diferença, que só tem que arcar com algum valor capital, ou que aqueles sonhos anteriores ao de ser responsável por outra vida tem de ser abandonados, re-adaptados. Me sinto revoltado!
Ser indivíduo já é complicado, as vezes não sabemos nem por onde queremos ir, se isto agora é o que temos que nos apegar e agarrar de verdade. Queremos testar e ainda continuar testando várias coisas. Somos seres de mente e espírito volátil! Então, por um determinado fato ou força, capturado, perde-se a liberdade, agora só cobranças, só responsabilidade, chega de ser um ser, agora é apenas humano, um currículo, um projeto, que nem tem a liberdade de planejar como ser, fuzilado pelo alheio, pelo próximo, pela metade... Não!
E se você acha simples assim, então ensine-o. Assegure-se de falar onde ele é necessário, onde sua presença é insubstituível. Pergunte-o o que ele está fazendo, onde aquele plano vai influenciar, se tem alguma coisa a ver contigo ou não, qual o resultado que ele quer promover. Entenda que, assim como você, assim como sua mãe, ele também quer fazer algo, mas ele não faz porque não sabe, porque não tem ninguém a ensinar, ele está frustrado, desolado...
Imaginar que o ser humano é ruim é um erro! Se está um caos, é por conta de que tudo é um mistério. Então, junte as peças, tente saber a ordem dos acontecimentos! Pois o caos é um sistema onde seus fatos estão desorganizados e desentendidos.
Não quis escrever uma história feliz, e sim a maior quantidade de fatos e casos que vi, por todos os envolvidos, que até eu mesmo sofri. Se já não é fácil se diminuir para ensinar o pai ou a mãe a ser pai e mãe, imagina ser um e ainda nem saber. E é uma homenagem, porque, se não fosse o meu pai, aos pais que vejo, eu não saberia isto, e talvez não possuiria um entendimento do que é ser pai, do quanto pode ser esta imagem.
Agradeço à todos os pais do mundo, aqueles que estão presente ou ausentes!