HOMENAGEM DEVIDA A MINHA MÃE.
(TEXTO LONGO DEMAIS. VOU MODIFICAR. PERDOEM)

NARRAÇÃO DE FATOS APURADOS PELA MEMÓRIA DE MUITOS QUE ALI VIVERAM.

ERAS FEITA DE TERNURA E CORAGEM. UMA RENDA TÃO FINA QUE A TESSITURA TRAIA A MÃO DELICADA DE QUEM A FIZERA.
NUNCA QUASE NADA TIVERAS. NO ENTANTO, TEUS PÉS PISAVAM O CHÃO DE PEDRAS COM A ALMA NO ETERNO SONHO: O DE SER FELIZ. JÁ SENTIAS QUE FELICIDADE ERA CONSTITUÍDA DE MINÚSCULOS FRAGMENTOS.
PEQUENA PASTORA, QUE OVELHAS GUARDAVAS NOS DISTANTES VERDES CAMPOS. TUA VOZ – QUE SEMPRE ADMIREI - ERA DO MAIS BELO PÁSSARO CANORO. O SOM CRISTALINO E SUAVE, POR CERTO, APAZIGUAVA OS ANIMAIS.
MENINA- MULHER, PEQUENA ESTATURA, CORPO ESCULTURAL, QUE TODOS ADMIRAVAM. VESTIDA DE ROUPAS HUMILDES – (TU TE VESTIAS DO QUE DAVAM E NO TEU INSTINTO AJEITAVAS) - A LAVAR OS LONGOS CABELOS NEGROS NO RIO PARA SECÁ-LOS AO VENTO. UM QUÊ DE MÍSTICO NO QUE DIZIAS, NO TEU SORRISO E NO OLHAR DE MEL. ERAS A MAIS VELHA DE SETE IRMÃOS E FOSTE COLOCADA PARA “SERVIR”.
NA VERDADE, ERA MENOS UMA BOCA EM CASA PARA ALIMENTAR. ALGUNS ANOS ALI FICASTE, MAS FOSTE CHAMADA PELA MORTE DE MINHA AVÓ A TOMAR CONTA DE TODOS. A TEMPESTADE SE FORMAVA. APESAR DO TURBILHÃO DE OFENSAS, DE TODOS CUIDASTE SEM MEDIR ESFORÇOS, MULTIPLICANDO O TEMPO ENTRE O SERVIÇO RURAL E O CUIDADO COM MEUS TIOS E TIAS. OS TIOS IAM À ESCOLA. “MULHER NÃO PRECISAVA APRENDER A LER” , APESAR DE A TANTOS AJUDAR. MAS, DE UM AMIGO TRAZIDO EM DIA DE COLHEITA TE ENAMORASTE.UM FILHO TIVESTE. LINDO MENINO.  UMA CRIANÇA SEM PAI, EM PLENA ALDEIA. UM PECADO SEM PERDÃO PARA O PRECONCEITO DA ÉPOCA.
DE CASA FOSTE EXPULSA. DORMISTE AO RELENTO, EXPOSTA À NEVASCA. FOSTE HOSPITALIZADA. AO VOLTAR, TEU MENINO – SEM EXAGERO – EM TRAPOS ENCONTRASTE. ENFIM, PORQUE DE TI PRECISAVAM, POIS MEU AVÔ UMA PERNA FRATURARA, DEIXARAM QUE RETORNASSES E AQUECESSES TEU PEQUENO, À BEIRA DA LAREIRA.
TUDO ISSO, PORÉM, TE VALEU OS ANOS MAIS DIFÍCEIS QUE JÁ TIVESTE. ERAS UM NADA EM CASA E PARA O POVO QUE MURMURA SEM PENSAR. O TEMPO PASSOU. TODOS CRIARAM ASAS E VOARAM. MUITOS PARA O BRASIL EMIGRARAM. MEU AVÓ PARTIRA. AGORA, DETINHAS A RESPONSABILIDADE TOTAL POR TUDO. NÃO HAVIA UM HOMEM QUE CHAMASSES E QUE NÃO DISSESSEM QUE SERIA TEU AMANTE.
CERTO DIA UM HOMEM TRISTE – SEPARADO DA ESPOSA – BEM MAIS VELHO A TI SE CHEGOU, DEVAGARINHO, POIS SABIA QUE NÃO ERAS O QUE FALAVAM. DOIS CORAÇÕES SE ENLAÇARAM.

OUTRO ABSURDO PARA AQUELA ALDEIA. COMO? PODERIA ELA ACEITAR VIVER COM UM HOMEM SEPARADO. NO ENTANTO, TEUS PÉS PISAVAM O CHÃO DE PEDRAS COM A ALMA NO ETERNO SONHO: O DE SER FELIZ. JÁ SENTIAS QUE FELICIDADE ERA CONSTITUÍDA DE MINÚSCULOS FRAGMENTOS. MAS, FOSTE FELIZ... NÃO TOTALMENTE. O LAÇO DE RESPEITO E DE SEGURANÇA FALOU MAIS ALTO POR POUCO MAIS DE CINCO ANOS. EM BREVE, DOBRARIAS OS BRAÇOS EM ETERNA ANSIEDADE. TEU COMPANHEIRO SE FOI EM UMA TARDE NUBLADA DE COIMBRA COM UMA DOENÇA TERMINAL. NINGUÉM DELE CUIDOU. NINGUÉM OS TEUS RECEIOS VIVEU.
SÓ QUE DESSA UNIÃO, TEU VENTRE DERA À LUZ, DEPOIS DE UMA QUEDA MUITO GRAVE A ESTA NARRADORA, QUE , EM TODOS OS SENTIDOS, PREMATURA NASCEU, ATRÁS DE MONTANHAS LONGÍNQUAS E RIOS QUE SERPENTEAVAM O LUGAR, TÃO VERDE E FLORIDO.QUE MAIS PARECIA UM AMBIENTE DE “ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS.” HOJE- EU NUNCA MAIS VOLTEI- É TOMBADO PELO PATRIMÔNIO HISTÓRICO PORQUE SEUS MONUMENTOS DE PEDRA REMONTAM À INVASÃO DOS ÁRABES.
TUA FILHA COM CINCO ANOS, O IRMÃO COM NOVE, SOZINHA FICASTE. OS PARENTES DE MEU PAIS NEM AO ENTERRO TE DEIXARAM IR.
QUANTO A MIM, NUNCA FUI RECONHECIDA COMO IRMÃ. OS NOMES QUE ME DAVAM, PODEM IMAGINAR. A LÍNGUA É RICA PARA DAR NOMES A CRIANÇAS “ILEGITIMAS”. ALIÁS, ATÉ O PADRE NÃO QUERIA BATIZAR-ME.
A FALSIDADE TRAVESTIDA DE BONDADE TE APONTOU O CAMINHO DE UM “PARAÍSO”. IRIAM AJUDAR-TE EM TUDO.
ASSIM, LEVADA PELAS PROMESSAS, EM DÉCADA REMOTA E PRECONCEITUOSA, AQUI CHEGASTE, APÓS DEZ DIAS DE VIAGEM DE NAVIO.
“AINDA ME LEMBRO DO GOSTO DO CAFÉ COM LEITE NA PRAÇA MAUÁ DE ENTÃO.”
TUA VIDA FOI A ANTÍTESE DO QUE DISSERAM. CONTINUAVAS FALADA. FOSTE TRABALHAR POR LONGOS ANOS COMO DOMÉSTICA. ERAS ANALFABETA.
EU FUI MORAR COM ESSES PARENTES MUITO ABASTADOS EM UM SÓTÃO CHEIO DE BARATAS, MAS NO QUAL APRENDI A CONTAR ESTRELAS, SENTADA NO TELHADO, AOS SEIS ANOS, SEM PODER DORMIR.
MEU IRMÃO, FOI TRABALHAR COM OUTRA FAMÍLIA. A ROUPA QUE EU TROUXE ERA DE “CAIPIRA”. PASSEI A SER O EXEMPLO DE TUDO NEGATIVO. SÓ OUVIA. NÃO FALAVA. TINHA UM ÚNICO AMIGO, NEGRO, LUSTRADOR DE MÓVEIS E ESTUDANTE DE BELAS ARTES, QUE ME DAVA PAPEL PARA DESENHAR E RESTOS DE LÁPIS DE COR (JÁ CONTEI EM OUTRA HISTÓRIA).
ADORAVA O CHEIRO DE TALCO QUE COLOCAVAM NA MENINA DE DOIS ANOS DA QUAL ERA OBRIGADA A CUIDAR (BRINCAR PARA QUÊ?), MAS NEM PENSAR EM USAR. TUDO ISTO NUNCA SOUBESTE. ELES ERAM “ÓTIMOS. “ SEU FALASSE, APANHAVA MAIS DO QUE JÁ FAZIAM.
.SEM FITAS DE CRIANÇA, BRINQUEDOS OU BONECAS, SENTIA, PORÉM, O VAGO PERFUME DE UM SONHO AINDA DISTANTE.
MINHA MÃE, JOVEM QUE ERA, OUTRO COMPANHEIRO ENCONTROU E, DESTA VEZ, COM ELE SE CASOU.
DERAM-LHE, ENTRE TANTAS HABITAÇÕES QUE TINHAM, UM BARRACO DE MADEIRA.
POUCO TEMPO DEPOIS ME LEVASTE PARA LÁ. TANTAS VEZES O PINTEI, COM OS MEUS QUASE DOZE ANOS. LÁ, EU TINHA UM JARDIM SÓ MEU. O CHEIRO DE ROUPA MUITO LIMPA QUE PARA FORA LAVAVAS, POIS TUDO DE NOVO RECOMEÇASTE.
QUE ESTRANHO... AS PALAVRAS NÃO ABSORVEM O QUE ERAS. AH! SE TUA FILHA SOUBESSE O QUE QUERIAS, TERIA ESQUECIDO O AMOR QUE O DESTINO TAMBÉM LHE ROUBARA, AOS DEZESSETE ANOS E SE CASARIA COM O CAVALEIRO ANDANTE QUE LHE ARRANJASTE E QUE TANTO A PRESENTEAVA. ELE A AMAVA. ELA NÃO. O CORAÇÃO DELA NÃO APRENDERIA. NUNCA – AQUELE JOVEM – A ENTENDERIA OU O PERDÃO LHE DARIA.
PERDOA-A, SE PUDERES. ELA TUDO CONFUNDIU. VIVEU POR VIVER. MAS, NÃO SOUBE OBEDECER À TUA EXPERIÊNCIA DE VIDA. PREFERIU SEGUIR ILUSÕES. É TÃO RUDE E TRISTE SABER QUE ENCONTROU O AMOR IDEAL E ESTE LHE FOI ROUBADO- TU NÃO GOSTAVAS DO PRIMEIRO NAMORADO. MAIS TRISTE AINDA QUANDO SE PERCEBE QUE JAMAIS SE REPETIU.
MUTO TEMPO PASSOU. ALEGRIAS TIVESTE. TUA FILHA DE TI SEMPRE CUIDOU. ELA NÃO ESQUECE O VENTO DESMANCHANDO TEUS CABELOS DE NEVE, EMBORA NÃO MAIS A RECONHECESSES. ESTARIAS, EM BREVE, PARA SEMPRE ADORMECENDO.
HOJE, ELA NÃO MAIS OLHA O ESPAÇO AZUL. QUASE NÃO ENXERGA. MAS SENTE QUE SUAS MÃOS ESTÃO CHEIAS DA TUA CORAGEM E DOS LUANDROS – FLORES AZUIS QUE LHE DAVAS DO LADO DE LÁ DO ATLÂNTICO.
 DUAS PONTAS DE UMA VIDA “ATADA POR LUANDROS.” COM UMA DIFERENÇA, OS LUANDROS DE HOJE SÃO EM SUA HOMENAGEM. SÃO A PROVA DE QUE TUA FILHA NÃO SOUBE VER A SUTILEZA DE RECEBER A BELEZA DO AMOR E O VENENO DE O PROCURAR PARA SEMPRE.
Luandro
Enviado por Luandro em 04/02/2017
Reeditado em 04/02/2017
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