Para noel rosa
Se eu pudesse lhes falar, eu diria que só me arrependi do que não fiz. E o que fiz, bem ou mal, valeram a experiência. Em toda minha vida os filhos da mãe me privaram de muitas coisas, fisicamente e materialmente, mas nunca puderam controlar meus pensamentos. E dentro deles me satisfiz bem mais do que eles gostariam. Foi só uma questão de concentração. Eles diziam que se eu tivesse força de vontade poderia ganhar dinheiro e ser feliz. Força eu tinha, só não tinha vontade de servi-los ou subjugar vidas alheias a minha felicidade. Os filhos da mãe queriam me convencer de que eu não tinha escolha. Que era inevitável jogar o jogo. Que não se podia viver satisfeito pendurado a beira de um precipício.
Para ser sincero não me deram nenhuma oportunidade de mãos beijadas, e eu também não fui atrás delas. No fundo, se algo realmente tenha dado errado, a culpa foi minha. Sou culpado de não ter me concentrado ainda mais.
Pode se dizer que na vida fui um sujeito triste, mas não infeliz. Tive sim medo, muito medo de ter feito as opções erradas, mesmo convicto e em constante evolução das minhas verdades. Mas, o que poderia ser mais errado do que não ter sido eu mesmo?
Eles sempre me ameaçavam com a realidade cruel, nua e crua da vida. Diziam que a própria realidade se encarregaria de desmanchar um por um dos meus ideais e transforma-los em amargura. Esteve sempre bem claro para eles que a verdadeira questão a ser levada em conta era a luta pela sobrevivência. O instinto primordial do ser humano. E que se eu quisesse sobreviver dentro da selva, teria que usar das mesmas armas e escolher uma das muitas modalidades pela sobrevivência que eles ditavam. Entrar no jogo. Óbvio que eles estavam certos. As regras do jogo eram mais do que claras. Mesmo assim resolvi correr o risco. Fiz-me de não entendido. Tornei-me invisível. Entretanto, vez em quando eu tinha que dar as caras, dá-la a tapa. Faze-lhes a vontade. Porem mesmo fazendo-lhes o querer, sempre dei um jeitinho de escapulir e me esconder novamente atrás dos meus pensamentos. E durante anos escapuli como pude, ciente de que chegaria talvez o dia do meu enforcamento...
Não posso negar que sofri. Pois, deveras não me foi fácil aceitar a bom grado certas limitações. E também escolher o melhor caminho a percorrer nunca é uma tarefa tranquila pra ninguém. Aonde dará tal caminho? Ganha-se daqui, perde-se dali.
Apesar de que, muitas das minhas limitações, foram mais por culpa da minha personalidade do que a falta de dinheiro ou qualquer outra coisa. Quanto as restrições que requeria dinheiro de qualquer maneira, sem me dar muitas opções, essas nunca me perturbaram tanto. Sou um sujeito que possui a visão do poeta. Um apanhador de desperdícios (Manuel de barros). Não preciso necessariamente escalar a montanha pra chegar até seu topo. E as vezes eu sou a própria montanha.