Sobre a Decadência

Na famosa canção de Cazuza ele lamenta que seus heróis morreram de overdose. Os meus tenhos visto perecer de senilidade. São tantos nomes, José saramago, Umberto Eco, Eric Hobsbawm, Ariano Suassuna e por aí vai. O homem tem desfrutado de uma maior longevidade, fazendo com que grandes pensadores, que antes despareciam abruptamente, possam desfrutar de um período maior e ver muitas vezes sua teoria não condizendo com as expectativas teóricas iniciais. Viver possibilita esse olhar no tempo e as adequações ou inadequações conceituais. Tornar-se vital essa maleabilidade que permitirá ver com outros olhos o argumento desenvolvido e porque não, contestá-lo.

O título do texto sugere essa decadência que a velhice provoca, já que a morte se torna uma evidência ainda mais presente. O corpo modifica e muitas vezes a própria mente se vê privada da memória ou outros fatores que faziam a diferença na confecção teórica. Claro que pode-se chegar com uma lucidez absurda, fazendo com que a maturidade possibilite esse olhar q2ue busca um aprofundamento, apesar de sermos essencialmente rasos, ou seja, sem essência. O fato é que podemos ver nossos grande ídolos se desenvolvendo e sabermos o quanto se envolveram naquilo que pregaram, tendo como focoo modo de vida.

Tais perspectivas fazem do pensador de hoje um ser ainda mais complexo, tendo em vista seu prolongamento, o que pode fazer com que passe de herói a vilão. Grandes mártires, se fizeram ícones justamente por terem morrido no auge teórico e não terem vivenciado o que se tornaria o seu arcabouço conceitual. Alguns desfrutraram de breves períodos de lucidez sobre a reação a suas ideiais, fazendo com que alguns morressem um tanto quanto decepcionados. Como seria Nietzsche com sua vida prolongada, Marx, chegado aos cem anos, um século de existência, como foi o caso de Claude Lévi-Strauss. Será que Weber teria observado outras perspectivas, Durkheim, Foucault? Mas e se não pensarmos no si e sim em cada contribuição dentro de um limite que lhes escapa. Mortos precocemente ou senis, o fato é que são dos que fazem a diferença entre os homens e seu legado está além de sua estada aqui. Ver a fragilidade de grandes mentes também nos aproxima desse fator humano que a todos une.

Digo que é um privilégio poder conviver com essas lendas que nos inspiram e esperamops que novas safras venham favorecer a espécie humana com sua sabedoria. Que orgulho ver meus ídolos morrerem de senilidade, tendo vivido bastante da vida e podendo desfrutar dos altos e baixos que são a fonte de inspiração para a produção conceitual. Ter duzentos anos de um Saramago só traria dádivas a cada um que pudesse se contagiar com essa presença inspiradora. Aproveitamos o máximo dessas estrelas, inclusive após seu declínio, onde os fragmentos dessas supernovas servirão de foco para as futuras gerações, numa Constelação Sapiens.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/02/2016
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