GATOS II
GATO II
Cada gato tem sua peculiaridade, sua personalidade, o nosso saudoso Aladim, que repartiu conosco, alegrias e tristezas, era um gato muito esperto, inteligente demais, para um SND (sem raça definida – vulgo – vira latas), muito carinhoso, quando queria, extremamente carente, quando desejava, carinho nunca era demais, quando ele pedia. Adorava “ler” nossos livros, “atender” a secretária eletrônica, “digitar” no computador, textos que só ele poderia compreender, se é que me entendem. Adorava reorganizar canetas, lápis e demais objetos que rolassem de alguma maneira, enfim, um sábio e um literato de quatro patas. Depois que aprendeu a se ver na câmera do computador, fez diversos novos amigos, ficou famoso, nas redes sociais, pena ter partido, antes de poder se criar a sua própria página, creio que teria recebido muitas curtidas e comentários, ele era muito atencioso, quando resolvia ser atencioso. Seus também saudosos, irmãos de quatro patas Adônis, “o único” um cooker spaniel negro e Cindy “a bela” uma dacshud preta, se alegravam e sofriam com ele, eram companheiros, irmãos e adversários aos mesmo tempo, todos excepcionalmente mansos e carinhosos, a casa era uma festa, com suas presenças generosas.
Nada, como um pedacinho de fígado para fazê-lo, empinar seu rabo cinza e ronronar por entre nossas pernas, pedindo aquele petisco, gostava bastante de requeijão também, e quando ganhava em seu aniversário, Natal e outras datas especiais, um mimo diferente de sua ração seca, tipo, uma pastinha de salmão, de linguado, de vitela com ervas finas, chique ele era, todas próprias para gatos, aí então, ele ficava seu maior fã e amigo pra toda a vida, nada interesseiro. Dormir sobre a barriga do meu marido (e pai adotivo dele), era pra ele uma delícia, ficava afofando tudo, como se fosse um travesseiro.
Às seis horas da manhã, fosse dia útil ou não, se estivesse chovendo ou fazendo sol, vinha de mansinho, lembrando, ele era ENORME e meio pesado, subia pelo meu corpo, e miava baixinho ao pé do meu ouvido, vinha até o meu rosto, sentia minha respiração, e voltava para perto do pote de ração, fazia isso todos os dias. Nos dias em que se podia dormir até mais tarde, ele agia da mesma forma, e depois de três infortunadas tentativas de me acordar, subia até o lugar onde se encontrava o pote de ração, e o jogava longe, com uma bela patada, para que fizesse bastante barulho, e tinha toda a certeza que aí sim, conseguiria ser alimentado no horário habitual. E nem esperássemos dele, muita alegria até o meio da tarde, ficava indiferente, e com a pose mais cínica do mundo, como se não tivesse ninguém em casa, um malandro sentido. Seu defeito era, como o de todo gato, a curiosidade, andaimes eram pra ele uma sensação, por causa deles, caiu três vezes do quinto andar, e se machucou bastante, teve que colocar gesso, muleta, quebrou “nariz”, pata, escoriações diversas, mas, não pensem que se foi pro o “céu dos bichinhos” por este motivo, não, dessas travessuras, saiu-se lindo belo e frajola, era nosso “super-cat”, deixou prejuízos, como TV quebrada, vídeo cassete quebrado, frascos de perfumes, toldo das vizinha, do andar abaixo da nossa janela furado, com sua travessia intempestiva de cinco andares para baixo, mas, isso nem se conta.
Era um exímio goleiro, um corredor nato, um saltador ágil, adora brincar de “esconde-esconde”, paciente com crianças, e saibam, que foi colocado à prova diversas vezes, e aprovado com louvor, por sua atitude compreensiva, em alguns casos, até muuuuuuito compreensiva. Um investigador de caixas e ruídos excepcional, um companheiro de todas as horas, deixou saudades, dos abençoados e felizes 18 anos que nos proporcionou. Onde estiver, com certeza está miando por nós, acreditamos piamente, nisso. Seus olhinhos amarelos e brilhantes, verdes em algumas horas, seu pelo branco e cinza clarinho, seus “passinhos” cuidadoso e silenciosos, nunca sairão de nossa lembrança, era o nosso Aladim, nosso amor, nossa alegria. Um sonoro Miau, para vocês leram mais uma homenagem, ao meu fiel companheiro.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 03 de fevereiro de 2015.