SAUDADES, PAI!

Quando eu nasci o meu pai já tinha 47 anos e, talvez, tenha sido por isso que a minha educação se pautou mais em humanidades do que no esporte. Ele quase não tinha tempo (era vereador, líder sindical, mantinha cem trabalhadores lavrando a terra, era médico prático rsrsrsrs) de jogar bola, de nadar, de caçar (ainda bem! Não gosto de quem mata pássaros) comigo, mas orientava-me a ler livros. Ah, também nos entretinha com saraus, onde lia clássicos cordéis. Somos dez irmãos e ficávamos em sua volta, ouvindo aquelas mágicas histórias rimadas (taí a minha influência poética rsrsrsrs). Para a assistência ainda vinham Zé Carlos, o irmão de mamãe, e Rosalice, a linda filha do panificador Biu Quirino.

Era o tempo da honestidade, da economia! Quantas vezes nós fomos a pé para Pau a Pique, depois que ele vendeu o seu Ford 41! Quantas vezes fomos de ônibus até a entrada de Gurinhém, na BR 230, e de lá puxávamos a pé até àquela cidade, onde ele era o Presidente da Câmara Municipal. Os vereadores não tinham remuneração. Lembro-me de ver o meu pai, líder dos parlamentares, entregar-lhes um envelope, no final do mês, com a maior nota em circulação. Era o salário! Coitados, diriam hoje, porque trabalhavam por amor. Rsrsrsrsrs

Quando papaizinho (todos o chamávamos assim, exceto Nanau) estava um pouco cansado me autorizava a ir chamar o táxi. Ele preferia viajar com um comerciante da Rua do Cochila, chamado Auri. Eu gostava, porque enquanto esperava o Jeep de Auri, ficava sentado na sua sala, vendo televisão colorida. O nosso era preto e branco, de forma que o meu olhar infantil ficava desejando que Auri custasse bem muito! Rsrsrsrsrs

PAPAZINHO

Se pai estivesse vivo

Estaria com cem anos

Ainda fazendo planos

Com seu jeito criativo

Com a saudade convivo

Daquele homem tão sério

Que mora noutro hemisfério

E está no meu coração

Um exímio cidadão

Feito do melhor minério

Na terra o seu ministério

Foi de servir à pobreza

Toda a sua natureza

Expedia refrigério

Hoje está no cemitério

Quinze anos de distância

Do sorriso em abundância

Ao chamar-me “me amor”

Por isso dá-me uma dor,

Papaizinho, essa vacância!

No trato tinha elegância

Respeito ao semelhante

Da sua mente brilhante

Andava longe a ganância

Pois tinha repugnância

Por qualquer exploração

Na sua vereação

Ou dentro do sindicato

Foi probo e com recato

Cumpriu a sua missão...

Sander Lee