MEU PAI
Pai, trago em minhas mãos marcadas e lívidas
As lembranças rebuscadas do teu passado
Que o tempo em suas nuanças ininterruptas
De alegrias e tristezas não as consegue dissipar.
Ah! Meu pai: seleiro e sapateiro...
Tão trabalhador e honesto. Enérgico e, ao mesmo tempo,
Sereno e sensato em tuas firmes decisões.
Que saudades de ti, meu pai!
Fostes dormir naquela noite fatídica de verão
E, pela manhã, o estarrecimento: tu estavas morto, meu pai!
Quisera, então, embalar-te em meus braços, mas eu, então, tão
criança,
Não tinha forças e estas se desvaneciam ainda mais
Com o pranto de minha mãe, a abnegada esposa de toda a tua vida
Deixando cair incontidas e reluzentes lágrimas no meu leito.
O comerciante, fabricante de capotas para veículos, arreios
E calçados para deficientes físicos se fora, num tempo em que
Tais serviços tinham valor incomensurável!
Teu coração o traiu, meu pai!
E o que ontem eram dores tuas, hoje eu as faço dores minhas.
E me sinto distanciando-me sempre mais da vida
Para encontrar-te no teu refúgio de paz infinda
E esquecer as minhas ilusões níveas..., perdidas.