MEU PAI

Pai, trago em minhas mãos marcadas e lívidas

As lembranças rebuscadas do teu passado

Que o tempo em suas nuanças ininterruptas

De alegrias e tristezas não as consegue dissipar.

Ah! Meu pai: seleiro e sapateiro...

Tão trabalhador e honesto. Enérgico e, ao mesmo tempo,

Sereno e sensato em tuas firmes decisões.

Que saudades de ti, meu pai!

Fostes dormir naquela noite fatídica de verão

E, pela manhã, o estarrecimento: tu estavas morto, meu pai!

Quisera, então, embalar-te em meus braços, mas eu, então, tão

criança,

Não tinha forças e estas se desvaneciam ainda mais

Com o pranto de minha mãe, a abnegada esposa de toda a tua vida

Deixando cair incontidas e reluzentes lágrimas no meu leito.

O comerciante, fabricante de capotas para veículos, arreios

E calçados para deficientes físicos se fora, num tempo em que

Tais serviços tinham valor incomensurável!

Teu coração o traiu, meu pai!

E o que ontem eram dores tuas, hoje eu as faço dores minhas.

E me sinto distanciando-me sempre mais da vida

Para encontrar-te no teu refúgio de paz infinda

E esquecer as minhas ilusões níveas..., perdidas.

Antenor Rosalino
Enviado por Antenor Rosalino em 12/07/2014
Código do texto: T4879306
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.