Saudades do carreteiro
Rodando estrada a fora
Vai a carreta gemendo
As aves vão se escondendo
O dia está indo embora
Parece que a noite chora
Mil estrelas aparecem
Ao carreteiro oferecem
Lindos sonhos nesta hora
Então ele vai parando
À beira de uma aguada
Bate saudades da amada
Que ficou por lá rezando
Deixa os bois descansando
Prepara um fogo de chão
Depois afina o violão
Alma dele vai lavando
Às mágoas do coração
O carreteiro dá passagem
Combinando com a paisagem
Daquele momento bom
Ao longe se ouve o som
A noite fica parada
Parecendo apaixonada
A natureza dá o tom
A madrugada chegou
A labuta recomeça
Tudo mais anda depressa
Um novo dia raiou
O carreteiro deixou
As cinzas de uma saudade
Foi rumando pra cidade
No asfalto ele chegou
O romance não resiste
Tudo mudou de repente
O carreteiro contente
Agora não mais existe
Carreta de hoje consiste
Num enorme caminhão
Não faz rima ao coração
Porque a vida ficou triste
Era outro o brasileiro
Daqueles tempos antigos
E diferentes amigos
Peão, lavrador e tropeiro
Talvez algum bolicheiro
Tudo mudou, é verdade
Só não matou a saudade
Do filho de um carreteiro.
(Ao meu pai, que foi carreteiro)