Saudades do carreteiro

Rodando estrada a fora

Vai a carreta gemendo

As aves vão se escondendo

O dia está indo embora

Parece que a noite chora

Mil estrelas aparecem

Ao carreteiro oferecem

Lindos sonhos nesta hora

Então ele vai parando

À beira de uma aguada

Bate saudades da amada

Que ficou por lá rezando

Deixa os bois descansando

Prepara um fogo de chão

Depois afina o violão

Alma dele vai lavando

Às mágoas do coração

O carreteiro dá passagem

Combinando com a paisagem

Daquele momento bom

Ao longe se ouve o som

A noite fica parada

Parecendo apaixonada

A natureza dá o tom

A madrugada chegou

A labuta recomeça

Tudo mais anda depressa

Um novo dia raiou

O carreteiro deixou

As cinzas de uma saudade

Foi rumando pra cidade

No asfalto ele chegou

O romance não resiste

Tudo mudou de repente

O carreteiro contente

Agora não mais existe

Carreta de hoje consiste

Num enorme caminhão

Não faz rima ao coração

Porque a vida ficou triste

Era outro o brasileiro

Daqueles tempos antigos

E diferentes amigos

Peão, lavrador e tropeiro

Talvez algum bolicheiro

Tudo mudou, é verdade

Só não matou a saudade

Do filho de um carreteiro.

(Ao meu pai, que foi carreteiro)

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 03/06/2014
Código do texto: T4830516
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