A visão do Jatobá
(Samuel da Mata)
Era o ano de 1959, ele subiu num tronco de árvore tombado no meio da roça, mirou o horizonte e pensou: “este ano eu decolo”. Nunca tinha visto uma lavoura de algodão tão bela. As maçãs rosadas do algodão desabrochavam em capulhos viçosos transformando o campo num imenso tapete de neve. Era uma paisagem esplendorosa. Fez suas contas em silêncio e pensou: deve dar quase três toneladas por hectare, uma produtividade inimaginável para qualquer agricultor.
Era uma visão de esperança após quatro longos anos de dificuldades. A esposa adoentada, sem receber da prefeitura o mísero salário de professora rural há quase dois anos, o dono da terra desconversando os acordos da parceria na lavoura em virtude da expectativa de alta produtividade na safra. Aliado a isto estava o fato de ter se tornado indesejável a muitos pela insistência com que anunciava e defendia a sua nova fé e a renovação pentecostal. Não havia como contê-lo, abraçara a fé em Cristo e recebera o batismo com o Espírito Santo. Seu filho nascera com um sexto dedo, mas fora curado, sem passar por qualquer processo cirúrgico, mas tão somente pelo poder da oração.
Naquela noite foi dormir tarde, demorou conciliar o sono entre expectativas e preocupações. Os céus conspiraram, a temperatura caiu no pé da serra e uma forte geada se precipitou sobre a lavoura enchendo o vale de uma desolação jamais vista por ali. Quando o sol raiou, só havia destroços da plantação de algodão que tanto lhe alegrara. Foi tomado de uma profunda tristeza e desencanto que mal conseguia suspirar. Foi quando então lembrou-se do sonho que tivera na madrugada.
“Era uma mata alta fechada, com peroba, pau-de-óleo, ipês, jacarandás, aroeiras e muitas outras espécies não menos nobres, mas que precisavam ser derribadas para instalação imediata de uma nova lavoura. Cabia-lhe a tarefa, mas não sabia como começar, nem com dez homens seria possível fazê-la em tempo hábil. De repente, avistou um grande pé de Jatobá a margem da floresta, tão grande que sobressaia sobre as outras árvores como uma calda de pavão. Não perdeu tempo, deu com seu machado um pequeno pique nas árvores principais e depois pôs-se a tarefa de derrubar o Jatobá. Após algumas horas de machadadas o Jatobá tombou levando consigo toda a floresta.”
Voltou rapidamente para a cozinha, rejeitou o café que estava sobre a mesa e foi com a família para o cantinho da oração. Foi então quando o Senhor lhe disse: “Alegra-te meu servo, porque há uma grande floresta esperando por ti, e grande será a derribada, quando hoje te chamarem para ir para outras terras, dispõe-te e tenha bom ânimo, porque esta é a lavoura para a qual te escolhi, e muitos Jatobás aguardam o fio do seu machado.” Naquela mesma semana, ele recebeu o dinheiro atrasado da prefeitura, mudou-se para Brasília só com os utensílios domésticos, mas foi por cerca de 50 anos, uma das colunas da igreja na capital e um grande ganhador de almas para o reino dos céus. Seu nome: Francolino Rodrigues da Mata.
(Samuel da Mata)
Era o ano de 1959, ele subiu num tronco de árvore tombado no meio da roça, mirou o horizonte e pensou: “este ano eu decolo”. Nunca tinha visto uma lavoura de algodão tão bela. As maçãs rosadas do algodão desabrochavam em capulhos viçosos transformando o campo num imenso tapete de neve. Era uma paisagem esplendorosa. Fez suas contas em silêncio e pensou: deve dar quase três toneladas por hectare, uma produtividade inimaginável para qualquer agricultor.
Era uma visão de esperança após quatro longos anos de dificuldades. A esposa adoentada, sem receber da prefeitura o mísero salário de professora rural há quase dois anos, o dono da terra desconversando os acordos da parceria na lavoura em virtude da expectativa de alta produtividade na safra. Aliado a isto estava o fato de ter se tornado indesejável a muitos pela insistência com que anunciava e defendia a sua nova fé e a renovação pentecostal. Não havia como contê-lo, abraçara a fé em Cristo e recebera o batismo com o Espírito Santo. Seu filho nascera com um sexto dedo, mas fora curado, sem passar por qualquer processo cirúrgico, mas tão somente pelo poder da oração.
Naquela noite foi dormir tarde, demorou conciliar o sono entre expectativas e preocupações. Os céus conspiraram, a temperatura caiu no pé da serra e uma forte geada se precipitou sobre a lavoura enchendo o vale de uma desolação jamais vista por ali. Quando o sol raiou, só havia destroços da plantação de algodão que tanto lhe alegrara. Foi tomado de uma profunda tristeza e desencanto que mal conseguia suspirar. Foi quando então lembrou-se do sonho que tivera na madrugada.
“Era uma mata alta fechada, com peroba, pau-de-óleo, ipês, jacarandás, aroeiras e muitas outras espécies não menos nobres, mas que precisavam ser derribadas para instalação imediata de uma nova lavoura. Cabia-lhe a tarefa, mas não sabia como começar, nem com dez homens seria possível fazê-la em tempo hábil. De repente, avistou um grande pé de Jatobá a margem da floresta, tão grande que sobressaia sobre as outras árvores como uma calda de pavão. Não perdeu tempo, deu com seu machado um pequeno pique nas árvores principais e depois pôs-se a tarefa de derrubar o Jatobá. Após algumas horas de machadadas o Jatobá tombou levando consigo toda a floresta.”
Voltou rapidamente para a cozinha, rejeitou o café que estava sobre a mesa e foi com a família para o cantinho da oração. Foi então quando o Senhor lhe disse: “Alegra-te meu servo, porque há uma grande floresta esperando por ti, e grande será a derribada, quando hoje te chamarem para ir para outras terras, dispõe-te e tenha bom ânimo, porque esta é a lavoura para a qual te escolhi, e muitos Jatobás aguardam o fio do seu machado.” Naquela mesma semana, ele recebeu o dinheiro atrasado da prefeitura, mudou-se para Brasília só com os utensílios domésticos, mas foi por cerca de 50 anos, uma das colunas da igreja na capital e um grande ganhador de almas para o reino dos céus. Seu nome: Francolino Rodrigues da Mata.