BODAS DE OURO
(Samuel da Mata)

               Bodas de Ouro, 50 anos de casamento. Mas o que são 50 anos? Para alguém ligado à física quântica 50 anos são um bilhão, quinhentos e cinqüenta e cinco milhões e duzentos mil segundos, desprezadas as variações de espaço e tempo, considerando que estamos nos deslocando no cosmo bem abaixo da velocidade da luz. Para outro, ligado a área contábil, 50 anos são apenas 50 x 360, ou seja: 18.000 dias, considerando apenas os dias do ano comercial. Para um agricultor, 50 anos são 50 estações de plantio, com sucessos e insucessos na colheita, das quais se lembra muito bem. Mas, hoje, o que importa é a opinião dos nubentes.

             O que são 50 anos? Para os nubentes, cada dia foi diferente do outro. Cada um teve duração distinta e nenhum deles se repetiu. Houve os dias de alegrias que deveriam ter durado uma eternidade, mas se passaram breves como as chuvas de setembro, não lhes permitindo saboreá-los por completo. Ah! Como gostariam de relembrar cada segundo deles. Mas se esvaíram no tempo, entre preocupações e lutas que a vida lhes impôs. Hoje, o que resta daqueles dias são apenas fotos desbotadas nas quais muitos dos figurantes já se perderam no tempo, e hoje jazem sem nome, sem filiação e sem notícia alguma. São apenas sombras apagadas na paisagem da vida.

               Houve também os dias de angústia, da tristeza e da dor. Neles o tempo não anda, mas se arrasta lentamente como um caminhão de carga subindo a ladeira. Cada minuto é uma eternidade. É a febre que não passa, o remédio que não chega, a dor que não cede, o socorro que tarda e a oração que não é respondida. Só se sabe que o tempo não parou por causa dos soluços e gemidos incessantes do sofrimento. Estes dias sim, por mais que eles tentem, não conseguem apagá-los da memória. Há, ainda, os dias perdidos no tempo, em que o corre-corre da vida não lhes permitiu contá-los. Só perceberam que o ano acabou quando ouviram outra vez os cânticos de natal.

                 Mas Bodas de Ouro, não é apenas uma luta contra o tempo. É, acima de tudo, a vitória do amor sobre a intransigência, da abnegação sobre o egoísmo, da fé sobre a desesperança, do carinho sobre a indiferença e do perdão sobre a mágoa. Bodas de Ouro é a festa onde o amor floresce radiante, não mais na beleza das faces rosadas pela juventude, mas pela ternura e experiência expostas na serenidade dos nubentes que agora colocamos no topo do pódio para serem respeitados por todos, aplaudidos pelos filhos e coroados pelos beijos carinhosos de seus netos e bisnetos.
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 19/10/2013
Reeditado em 07/09/2015
Código do texto: T4532860
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