A Cigarra e a Formiga

(Texto de la Fontaine)

A Cigarra e a Formiga

Tendo a cigarra, em cantigas,

Folgado todo o verão,

Achou-se em penúria extrema,

Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha

Que trincasse, a tagarela

Foi valer-se da formiga,

Que morava perto dela.

– Amiga – diz a cigarra

– Prometo, à fé de animal,

Pagar-vos, antes de Agosto,

Os juros e o principal.

A formiga nunca empresta,

Nunca dá; por isso, junta.

– No verão, em que lidavas?

– À pedinte, ela pergunta.

Responde a outra: – Eu cantava

Noite e dia, a toda a hora.

– Oh! Bravo! – torna a formiga

– Cantavas? Pois dança agora!

(Leitura de Monteiro Lobato sobre o texto de La Fontaine)

A formiga boa

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quandocansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna

faina

de abastecer as

tulhas

.Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos arrepiados, passavam o diacochilando nas tocas.A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu-tique, tique, tique.Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de

paina

.-Que quer?- perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.-Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...A formiga olhou-a de alto a baixo.-E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu, depois de um acesso de tosse:-Eu cantava, bem sabe...-Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nóslabutávamos para encher as tulhas?-Isso mesmo, era eu...-Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nosproporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: "que felicidade tercomo vizinha tão gentil cantora!" Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa dsurante todo o mautempo.A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.Monteiro Lobato

faina - acúmulo de serviçostulhas- celeiros paina - fibra sedosa

A formiga má

Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza arepeliu de sua porta.Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com seu cruel manto degelo.A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro e o inverno veio encontrá-ladesprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se nem folinha que comesse.

(Leitura de Bruno Azevedo sobre o texto de Monteiro Lobato)

Neste mundo formigueiro, a cigarra se destaca, com seu canto singular. Existe a formiga amigável, que busca não reprimir a melodia, mas apenas somá-la a árdua labuta dos ordenados insetos.

Eis que em uma dualidade, a segunda face se apresenta, com uma formiga intragável. Desejando ofuscar a arte que lhe falta, sustentada pela força de um pobre argumento proletário.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 29/05/2013
Código do texto: T4316011
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