CEM ANOS DE LUIZ GONZAGA - A NOSSA HOMENAGEM
Nossa homenagem àquele que foi o maior poeta, cantador e sanfoneiro que as terras do Brasil já produziram. Ninguém conseguiu e dificilmente conseguirá fazer, com a perfeição que Luiz Gonzaga fez, extraindo do sofrimento do sertanejo com a seca, do esquecimento político, da riqueza cultural, da regionalidade, da qualidade e diversidade de seus poetas, do folclore, da violência, da pobreza, da manipulação política, da grandeza e da criatividade do seu povo, da luta pela sobrevivência, juntando tudo isto num balaio de cultura musical e, com uma diversidade rítmica rica e incomparável, retratar o essencial e o mais belo de toda esta realidade, como se fora, cada uma dessas canções, um filme na imaginação de quem conhece a vida do sertanejo. Ao Rei do Baião, minha singular homenagem e a minha canção.
SAUDADE DA ASA BRANCA
José Ribeiro de Oliveira
A asa branca não se vê mais no não Sertão,
No inverno ou no verão,
Não se vê seu avuar.
Se cai a chuva, não tem mais roça queimada,
Rosinha e a filharada,
Não vem mais me esperar.
Lá não tem mais vaqueiro, não tem mais vaquejada,
Forró de pé-de-serra,
Não se vê mais a tocar.
Sanfona branca e gibão estão no museu,
O sertanejo esqueceu
Quem mais cantou seu penar.
A tarde cai, sem a rede na varanda,
Da farinhada sinto o cheiro pelo ar.
Amanhecendo, não vou mais ver meu cavalo,
Não ouço o canto do galo um novo dia anunciar.
Não tem mais festas pra dançar a noite inteira,
Ao redor da fogueira, até o dia clarear.
Ai que saudade das noites de São João,
Lá no terreira o fole pronto pra tocar,
E a lua cheia trazendo gente de moio,
Com esperança no zoio de um amor encontrar.
No Céu estrelas bordando nossa ilusão.
E o coração pedindo pra noite não se acabar.
Mas meu sertão entristeceu,
Parece que morreu a vida naquele lugar.
E não é pela seca ou pela fome
É a voz do Gonzagão que não ecoa mais por lá.