“HOJE (20.08.11): UMA DÉCADA”
Nasci um cabra de sorte
Co’a bunda mirando a lua
Rumei meu burro pro norte
E dei minha cara co’a tua
Tantas batalhas de porte
Vencemos em cada rua
Até que nos chegue a morte
Chegamos ao topo da grua...
Sem querer, o teu caminho
Eu cruzei... e de mansinho
Fui ficando por aqui...
E depois, com toda calma
Estendi a minha alma
E não saio mais daqui...
Caminhava com a manada agrupada pelo destino.
Aleatoriamente.
Cinco dias úteis, mais dois inúteis, formavam uma semana.
Quatro ou cinco delas um mês; uma dúzia deles um ano.
Outro e muitos outros se sucedendo sem sentido, sem rumo definido.
Poucas pausas.
Na passagem de agosto de 2001, uma encruzilhada, uma pausa.
Indeciso, escolhi a rota menos provável, mais distante, mais diversa.
Intimamente contrariado, após a aceitação da rota, segui-a.
Apenas para “manter a palavra”, segundo a qual "ninguém é obrigado a prometer, mas, prometido, é obrigado a cumprir".
Era dia 20, uma segunda-feira...
Mal amanhecida pelo calor insuportável do local.
Acordaram, todos os lenços, pendurados em frente ao condicionador de ar que engolia ar quente e o devolvia fervendo, me cozinhando os ovos na cueca molhada sobre um lençol encharcado de suor e agonia.
Levantado cedo, inesquevível café da manhã tropical (abacaxi, aquele abacaxi que ainda adoça meus sonhos), seguindo para o local de trabalho, a conhecer um pouco novas pessoas e pessoas bem novas.
Dentre estas, uma chamou-me a atenção... à primeira vista.
Um quieto olhar inquieto, parecia querer me dizer algo que eu não compreendia.
Exaustivos, o trabalho e a rotina, me roubavam o tempo para buscar compreender o que me rendiam aqueles negros olhos.
Insistentes,
reluzentes,
ao me fitar me desnorteavam,
deixando-me sem o que dizer de coerente nos diálogos de trabalho...
As tantas, vãs e loucas, tentativas de decifrar aquele olhar, nem se deram conta de que os minutos, assoberbados, engoliram as horas e consumiram os dias de minha estada...
Na despedida deixei meu cartão; dela levei a lembrança...
O hotel, as malas, o aeroporto, o avião e, aí, a sensação...
A sensação de que havia esquecido algo na cidade que ficava abaixo.
A sensação de que havia deixado, ali, um pedaço considerável de mim.
Nos primeiros contatos, que se seguiram, aquela sensação se converteu em certeza.
A certeza de que lá, naquela terra distante, pousada naquela esquina improvável de meu destino, eu havia encontrado o amor de minha vida.
A certeza de absoluta exatidão astronômica, como a que se afere a hora mundial, com precisão de bilionésimos de segundos...
A imensa distância física, aos poucos, se foi encurtando.
Em breve tempo, podia ser vencida em segundos, cada vez que nos uníamos nos inúmeros contatos diários.
Que nos aproximam, que nos unem e que se sucederam, diária e ininterruptamente por seguidos 10 anos,
ou 120 meses,
ou 520 semanas,
ou 3650 dias,
ou 87.600 horas,
ou 5.256.000 minutos,
5.526.001, 5.256.002...
Aqui estamos, hoje (5.256.003, 5.256.004...), a comemorar a primeira das muitas décadas que temos pela frente, acreditando que, antes do final da última delas,
estaremos juntos e
seremos (continuaremos sendo)
felizes para sempre...
Para sempre... TE AMO.
Cwb. 20.08.2011-23h