EM MEMÓRIA DE JÁDER DE CARVALHO
Dizei ao Jáder, que aqui continuamos colhendo os frutos de sua lavra vivificante
Dizei a ele, que mesmo em terra bárbara
Seguimos como os mares bravios
Cujas impetuosas ondas se encontram com a areia...
E que nós, os socialistas lutamos
Para promover o encontro dos homens com a paz
Da liberdade com a independência...
Da emancipação dos homens e mulheres
Da razão com a missão
Por essas estradas onde ele passou
Feito sinos a dobrar pedindo chuva para os campos...
Dizei ao Jáder, que a aldeota continua linda
Apesar da arquitetura especulativa que fabrica caixões
Apesar da concentração de renda que agride os valores humanos
Apesar do barulho dos motores que nos agridem
Apesar da surdez e da cegueira social
Que contaminam muitos moradores...
E que nós, os socialistas continuamos persistindo
Em propagar outros valores
Diferentes dos valores do mercado de capitais
Os valores da paz universal plantada na igualdade
Que fecunda na liberdade e na justiça social
Como colheita fértil de conhecimento, ideais, pão e poesia
Dizei ao Jáder, que hoje os sinos dobram por ele
Pela imortalidade dos seus feitos e versos
Pela história que com sua vida escreveu
Pela memória e orgulho do cearense que foi e que é
Pela riqueza da sua obra e dos seus ideais...
E que nós, os socialistas badalamos todos os sinos
Que pela força da nossa homenagem e dos nossos sonhos
Transformam-se em sinfonias
Baladas de saudade e nostalgia
Canções rítmicas e acordes singulares de um poema imaginário
E as últimas cifras musicadas terminal assim:
VIVA JÁDER DE CARVALHO! VIVAM OS IDEIAIS SOCIALISTAS!
Por ocasião do centenário de Jáder de Carvalho, este homilde escriba recitou o presente texto numa marcante homenagem que contou com a presença do ilustre filho de Jáder de Carvalho, Cid Sabóia de Carvalho, ex-senador e Jornalista militante na Imprensa do Ceará.
Biografia
Jáder de Carvalho nasceu em Quixadá no distrito de Serra do Estêvão, hoje Dom Maurício em 29 de dezembro de 1901, filho de Francisco Adolfo Carvalho e Rita Moreira. Em sua infância e juventude vivenciou sucessivas secas inclusive a de 1915, acompanhando o êxodo rural, os crimes políticos da época, as brigas pela terra, o latifúndio, a fome e a miséria associadas à pobreza da população cearense.
Iniciou sua atuação em 1917, na cidade de Iguatu quando seu pai arrendou uma tipografia ociosa, pertencente a um farmacêutico chamado Arnoud. Nesta tipografia imprimiu um semanário de letras com escritos próprios além de sonetos de Olavo Bilac. Estudou com o pai, no Ateneu Quixadense, e no Liceu, em Fortaleza, onde, anos mais tarde, foi professor, inspetor regional e catedrático. Aos 20 anos já era considerado uma dos maiores intelectuais da época. Em 1922, com apenas 21 anos, despontava como destaque entre os novos escritores da literatura cearense.
Como jornalista fundou o jornal socialista A Esquerda em 1928. No mesmo ano, em parceria com outros pioneiros do movimento modernista no Ceará, lança "O Canto Novo da Raça". Em 1929, passa a pertencer ao grupo modernista Maracajá . Em 1931 lança "Terra de Ninguém" e, a este, seguem-se vários outros livros de versos. No mesmo ano, sai graduado em direito da Faculdade de Direito do Ceará.
Por divulgar as idéias do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e por criticar duramente o governo de Getúlio Vargas foi condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional do Estado Novo acusado de divulgar o marxismo. Permaneceu preso de 1943 a 1945. Nessa época, na companhia de outros dissidentes do PCB, fundou a Esquerda Democrática, embrião do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Depois, a convite de Paulo Sarasate, foi articulista do jornal O Povo.
Fundou o Diário do Povo em 1947 onde atuou até 1961.
(...)O meu jornal [Diário do Povo] era uma exceção dentro do jornalismo brasileiro. Apesar de pequeno, humilde, um jornal de província, lá realizei a verdadeira democracia. (...)
— Jader de Carvaho em entrevista em 1981.
Pertenceu à Academia Cearense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 14, à Sociedade Brasileira de Sociologia e ao Instituto do Nordeste. Em 1974, com a morte de Cruz Filho, foi eleito Príncipe dos Poetas Cearenses, prêmio concedido o melhor dentre os poetas vivos do estado.
Casou-se com a contista Margarida Sabóia de Carvalho com quem teve sete filhos.
Jáder de Carvalho morreu aos 83 anos.
[editar] ObraA obra de Jáder de Carvalho é composta por uma literatura caracterizada por sofisticado valor estético e social.
Estreou em 1928 com "O Canto Novo da Raça", obra dividida com Sidney Neto, Franklin Nascimento e Mozart Firmeza, pioneiros do movimento modernista no Ceará. Em 1931, participou diretamente do surgimento do Modernismo cearense com o lançamento de "Terra de Ninguém", a este, seguem-se vários outros romances, todos de cunho social: "Classe Média" e "Doutor Geraldo" (1937), "A Criança Vive' (1945), "Eu Quero o Sol" (1946), "Sua Majestade, o Juiz" (1962) e "Aldeota" (1963).
Entre os temas sociológicos: "O Problema Demográfico Brasileiro" e "O Índio Brasileiro" (1930) e "Povo Sem Terra" (1935).
Um dos livros de poesias mais famosos é "Terra Bárbara" (1965). Onde escreveu diversos poemas, entre os quais "Em Louvor de Quixeramobim", "Terra Bárbara", "Nordeste de Lampião", "Lampião", "Terra", "Padre Cícero", "São Francisco de Canindé", "Luz e Força", "A Guerra Acreana", "A Seca dos Inhamuns" e "Dobrai, Ó Sinais do Natal".