Hans, meu irmão da rua
para Hans Ludovic Hertel
Vai meu irmão ao fim dos teus dias.
Choro pranto vasto. Irrigo a dor,
antes da despedida te pranteio.
Algo que morre em mim me consola,
não há carpideiras, só silêncio,
fomos irmãos na vida, nas namoradas,
no rateio que fizemos para tua inscrição,
eu e mais três amigos, no concurso
que te permitiu iniciar tua carreira
de aeronauta, controlador de torre de voo,
onde o vício do tabaco te trouxe o câncer.
Guardarei tuas risadas numa caixa de
Pandora. Vai fazendeiro, durmas em paz,
sonhes com teu latifúndio onde querias
plantar linguiça e macarrão, regados
com ketchup todos os fins de tarde...
Nós que ficamos, daquele grupo amigo
formado na Escola Estadual Olavo
Bilac, erigiríamos em tua honra,
se pudéssemos, uma estátua
na Praça Argentina, palco das tuas boutades,
das brigas que apartavas com teus braços
largos, generosos nos músculos e atitudes.
Vai meu irmão! Nunca nos alongamos
nas despedidas por causa da perene
certeza do reencontro. Durmas em paz!...