E terna L embrança I nfinita S audade
(Texto composto em 20 de janeiro de 1982, quando da partida da inesquecível Elis Regina)
Eu era uma criança quando ouvi falar em você, uma quase menina também.
Vivenciamos juntas (embora distantes e desconhecidas) a mesma época, as mesmas canções, os mesmos protestos; sentimos o despertar da juventude entre o deslumbre e indecisões, nesse mundo mutante.
E, explodindo com toda a garra o talento que Deus lhe deu, você exprimia no canto a revolta de viver nessa época apocalíptica. E cantava o desamor, a ausência, a saudade, reclamando baixinho, virando pelo avesso, no “atrás da porta” que era o palco, mundo que você escolheu para ser feliz, esquecendo ali “como custava a dar a outra face”, dizendo num sorriso que “pra variar estamos em guerra” conosco mesmos, com a vida, com o mundo.
No meio desse mesmo sorriso que contagiava a todos, quem procurou notar o tremor na voz, a tristeza no olhar?...
Você se soltava, gesticulava, dançava e todos diziam ser sua alegria permanente... e todos pensavam ser você feliz e alegre!
Era a sua missão. E cumprindo essa missão, você foi fazendo os outros felizes. Cada canção se encaixava perfeitamente com os sentimentos de cada jovem da sua geração. Você dava um recado e a gente recebia, cantando debaixo do chuveiro o seu sucesso.
E fomos crescendo juntas, amadurecendo física e mentalmente quase na mesma ocasião, vendo as mudanças das pessoas e da vida com os mesmos olhos: olhos de quem começa a entender mais objetivamente, sem ilusões, sem sonhos!...
De repente, cala-se a voz e um pouco de nós se cala também!... E “roncam estandartes na avenida em dor, sem luz, sem sol, sem cor”, num entrudo silencioso e triste, por descobrir que para viver é preciso saber sonhar e que nós, que crescemos juntos, já não o conseguimos mais. Vamos sobrevivendo, lutando, a espera do nada, sem “promessa de vida no coração”!
Já não é mais preciso esperar a liberdade, Elis! Você a cantou e ela chegou, sendo recebida com um sorriso nos lábios, serenamente, num adormecer feliz e tranqüilo, como se nos quisesse dar a derradeira mensagem: a descoberta que ainda existe a paz tão procurada e um mundo de sonhos tão desejado, do outro lado da vida!
Estamos tristes... tristes pela perda física, pelo emudecimento da voz... Mas ainda ressoam as canções com o seu recado e o seu sorriso há de permanecer como uma esperança: a esperança de que nada termina... é somente uma mudança para melhor, para um mundo feito de amor e de paz, no “céu da vibração”, onde ainda se pode sonhar!
(Texto composto em 20 de janeiro de 1982, quando da partida da inesquecível Elis Regina)
Eu era uma criança quando ouvi falar em você, uma quase menina também.
Vivenciamos juntas (embora distantes e desconhecidas) a mesma época, as mesmas canções, os mesmos protestos; sentimos o despertar da juventude entre o deslumbre e indecisões, nesse mundo mutante.
E, explodindo com toda a garra o talento que Deus lhe deu, você exprimia no canto a revolta de viver nessa época apocalíptica. E cantava o desamor, a ausência, a saudade, reclamando baixinho, virando pelo avesso, no “atrás da porta” que era o palco, mundo que você escolheu para ser feliz, esquecendo ali “como custava a dar a outra face”, dizendo num sorriso que “pra variar estamos em guerra” conosco mesmos, com a vida, com o mundo.
No meio desse mesmo sorriso que contagiava a todos, quem procurou notar o tremor na voz, a tristeza no olhar?...
Você se soltava, gesticulava, dançava e todos diziam ser sua alegria permanente... e todos pensavam ser você feliz e alegre!
Era a sua missão. E cumprindo essa missão, você foi fazendo os outros felizes. Cada canção se encaixava perfeitamente com os sentimentos de cada jovem da sua geração. Você dava um recado e a gente recebia, cantando debaixo do chuveiro o seu sucesso.
E fomos crescendo juntas, amadurecendo física e mentalmente quase na mesma ocasião, vendo as mudanças das pessoas e da vida com os mesmos olhos: olhos de quem começa a entender mais objetivamente, sem ilusões, sem sonhos!...
De repente, cala-se a voz e um pouco de nós se cala também!... E “roncam estandartes na avenida em dor, sem luz, sem sol, sem cor”, num entrudo silencioso e triste, por descobrir que para viver é preciso saber sonhar e que nós, que crescemos juntos, já não o conseguimos mais. Vamos sobrevivendo, lutando, a espera do nada, sem “promessa de vida no coração”!
Já não é mais preciso esperar a liberdade, Elis! Você a cantou e ela chegou, sendo recebida com um sorriso nos lábios, serenamente, num adormecer feliz e tranqüilo, como se nos quisesse dar a derradeira mensagem: a descoberta que ainda existe a paz tão procurada e um mundo de sonhos tão desejado, do outro lado da vida!
Estamos tristes... tristes pela perda física, pelo emudecimento da voz... Mas ainda ressoam as canções com o seu recado e o seu sorriso há de permanecer como uma esperança: a esperança de que nada termina... é somente uma mudança para melhor, para um mundo feito de amor e de paz, no “céu da vibração”, onde ainda se pode sonhar!