Sheila,
Agradeço aos deuses budistas, por nunca vivenciar a fatalidade de perder um filho, almejando que esta gratidão eternize-se na minha Vida.

Garganta embargada pela emoção ao ler “Cavalo Marinho”, impossível conter as lágrimas, que fazem meu coração-mãe-mulher aproximar-se do teu. Neste poema refletes a dor de uma maternidade responsável, portanto, desejada, que - involuntariamente - não se consumou na vida real, cristalizando-se nos sonhos. Bom seria, tantos homens e mulheres pudessem lê-lo...

Sendo a Poesia uma forma de exteriorização lingüística que nos permite, através de vocábulos quase sempre metafóricos, evocar sentimentos nas suas variadas formas, consegues, a começar pelo título, alcançar meu sentimento mais profundo. Buscas numa das criações que nos é ofertada pela Natureza – um pequenino cavalo marinho - aquela que será, na tua imaginação, metáfora viva da tua própria criação, que se foi, deixando marcas profundas e perenes na tua vida.

Através de palavras simples, mas verdadeiras, expões um poema dramático. Descreves. Como leitora aproximo-me de ti, no afã de conter-te as lágrimas, no momento em que te encontras no banho, “ajoelhada e contorcida”, frente ao “inevitável”. Mas, só me permites chorar, à distância. Emocionas. Diferente não poderia ser. Contudo, fazes isso tudo de forma ímpar, sem excessos. Passas tua dor - única, inconfundível e inacessível a outro coração que não o teu - de forma digna e consciente. Poetizar sentimento desse jaez é tentativa de exorcizá-lo, conquanto permaneça a certeza de que o motivo jamais será esquecido.

Levando-se em consideração que o corpo humano constitui-se de um incontável número de partículas elementares, também, encontradas no Universo, pode-se aceitar a afirmação de quem algum dia sugeriu que o corpo humano seria composto do mesmo material que o das estrelas. Portanto, eu... nós seríamos pequeninas estrelas espalhadas pelo mundo... Nesse mesmo refrão, teu Pequeno Cavalo Marinho seria, também, uma estrela pequenina... estrela especial, mas tão especial, que escorregou para as profundezas do mar... lá, onde a calmaria do céu se faz ainda refletir.

Portanto, Pequeno Cavalo Marinho...

Aceita...
o marulhar do Oceano
- teu primeiro habitat -
que agora, saudoso,
derrama-se em gotas
aos olhos da tua Mãe!

Aceita...
a graça das Flores do Mar
- teu primeiro jardim -
que agora, matiz,
adorna de olores
a alma da tua Mãe!

Aceita...
o beijar das Estrelas do Mar
- teu primeiro brinquedo –
que agora, dolente,
risca teu ar de pureza
no sorriso da tua Mãe!

Aceita...
o mistério do Infinito
- teu primeiro templo -
que agora, silente,
eterniza-te em Amor
aos versos da tua Mãe!

O meu carinho e respeito aos dois: mãe e filho.
Texto escrito com inspiração no sensível poema "Cavalo Marinho" da poeta Sheila de Assis:
http://peapaz.ning.com/profiles/blogs/cavalo-marinho

estrelamar

 
Cabo Frio, 28 de dezembro de 2009 – 21h30
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 06/07/2010
Reeditado em 26/09/2016
Código do texto: T2360924
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