Herbert Betinho de Souza

 Publicado originalmente em 15 de agosto de 1997, no extinto Jornal Opção, de Volta Redonda.


Os seres vivos têm como característica mais comum, o fato de nascer, crescer, reproduzir e morrer. Nada do que nasce, deixará de morrer. Alguns muitos não cumprem a etapa de crescer e de se reproduzir. Mas se nasce, obrigatoriamente tem que morrer. Às vezes dizemos, no auge da angústia provocada pela injustiça humana: - Que bom! Outras vezes dizemos: - Que pena! A verdade é que o ciclo da vida cumpra o seu papel na Terra.
O ser humano tem, enquanto animal, uma característica a mais no processo da vida. É o único ser que nasce, cresce, produz, reproduz e morre. A produção de bens materiais ou não, dá ao homem uma dimensão mais profunda de sua existência na face do planeta. É pelo que produz, no dia-a-dia, que o homem consegue fazer a diferença.
Em se tratando de produção, podemos ver que, assim como dizia Salomão no Eclesiastes , “nem sempre é dos fortes a vitória, nem dos que melhor correm”. Betinho, o “pai dos pobres” bem testificou esta verdade, ao mostrar que sua fragilidade física e doença não eram suficientes para fazê-lo desistir, e que nem mesmo a injustiça social, a usura dos grandes, a imoralidade reinante na vida política e social do país seriam empecilhos para que seu discurso alcançasse a prática e trouxesse vultosos frutos, de sabor tão especial, que poucos poderiam descrevê-lo.
Idealista, alvo de críticas, exilado pelos assassinos verdes, desejado pelo povo, homem. Herbert de Souza deixou mais que um nome; deixou plantadas sementes que hão de se espalhar pelos mais distantes rincões deste país. Algumas morrerão, outras serão comidas de aves, outras nascerão em solo ruim e não frutificarão. Mas muitas hão de cair em terra boa e produzir a sessenta e a cem por um.
Neste pequeno espaço, um pequeno poema segue. Não prioritariamente como uma homenagem a quem já não está em nosso meio. Mas como um chamado a quem ainda poderá fazer alguma coisa por quem continua precisando. Foguete foi, voltou e agora leva Betinho definitivamente em seu rabo. Mas seus pedacinhos, como diz Chico Alencar, hão de se espalhar e trazer um futuro de muitas lutas. Adeus, Betinho.

POESIA COMPLEMENTAR:

SEGUE O EXEMPLO

Betinho,
Pai de pobres,
Viajante da esperança mórbida,
Fiel dos gritos sem som
De quem não tinha pão.

Betinho,
Hoje a morte o calou,
Mas a mensagem brotou,
Perto de muitos corações
E tu, por que ainda vadias por aí?
Escuta, há muitas Marias,
Que ainda buscam uma mão.
Segue o exemplo do forte,
Dize ao mundo que sua morte,
Não foi vivida em vão.

Segue o exemplo no sonho,
Não cales teus lábios os tristonhos,
Sê como ele sonhou.
Pinta com esperança a favela,
Construindo uma aquarela,
Em que o sonho não findou!

Segue o exemplo do amor,
Segue-o até na dor,
Não te deixes esmorecer!

Terás também ato heróico,
Se fizeres tua parte,
Assim como deve ser!
E então,poderás ver
Que a cura do mal existe,
Que tudo pode ser menos triste
Se às lutas souberes honrar!

Então serás digno também,
De como BETINHO teu ídolo,
O nome do amigo do bem,
Sempre poderes usar!
Segue o exemplo:
Não te esqueças de amar