Bicho de pena
Ser professor
É uma escolha
Que se faz
Quando não se está bem,
Principalmente mentalmente.
O professor
É
Antes de tudo
Um sofredor.
O professor
Jamais vai está na moda,
Jamais vai ter tempo
Nem mesmo para ser professor,
Porque quem é professor
Trabalha três turnos nas escolas,
E o restante do tempo, em casa,
Muitas vezes nem mesmo em casa,
No pátio do colégio,
Não tempo de ir a casa almoçar,
Porque tem muita prova para corrigir,
Porque tem que estudar,
Porque tem que esquecer
Que algum aluno
Foi-lhe tão desagradável
A ponto de, por momentos,
Tudo se lhe perder o sentido,
E ele fica assim sem rumo
Com seu organismo o prendendo,
Tentando se livrar das toxinas
Liberadas em seu corpo
Após uma injustiça…
Professor quase não sente fome,
Porque todo dia
Tem alguém,
Seja aluno ou patrão
Que lhe ponha no seu lugar,
Ou melhor,
Professor não tem lugar,
Mas se tivesse
Não seria muito diferente de um lixão.
O professor
Não fala quase nunca de outro assunto
Que não seja o que esteja relacionado
Ao de ser professor,
Professor não tem profissão
É professor,
Uma sessão.
Professor é motivo de piada,
Sempre vai ser
Mais que sua aparência esteja arrumada,
Isso não muda nada,
Professor pode ter casa
Carro,
Até empregada,
Todavia, não tem a si mesmo,
É criatura escravizada.
Ser professor
É não ser nada,
Por mais que esteja em seu subconsciente,
E também no coletivo da categoria,
Aliás, professor não é categoria,
Todavia, talvez para se consolar,
Porque ninguém consola o professor,
Nem ele a si mesmo,
Ele sempre pensa que o que faz é importante,
“somos formadores de opinião”,
No entanto a opinião já está formada,
Professornada.
O professor é um bicho
Um bicho de pena
Que vive de forma engaiolada,
Nem reclama por suas liberdades
E se fosse livre,
Findaria ato contínuo,
Sem saber mais voar,
Já sem pena,
Nem lembra mais
Nem quem
Nem quando lhe foram arrancadas.