Dias Voláteis

Tudo passa:

A locomotiva,

O vento,

A doença,

As águas das chuvas,

As lágrimas,

A nevasca,

O incêndio,

O Corona,

A vida.

E ao passar,

Tudo há de secar:

A folha,

A lama química,

O lago,

A roupa,

O suor.

Tudo, tudo,

Há de passar,

Nada há de durar.

Resta saber,

O que virá no lugar.

Deixando de lado o devaneio,

De explicar o que não se sabe,

Por esses dias voláteis,

Quem pela vida não se move,

Para a morte se entrega,

E o médico finda a questão:

"Ocasionando falta de sangue nas veias,

Devido o Covid-19,

Sem ratiar,

Emudeceu o coração".

Tudo passa:

Lá vai a dor sem se despedir.

As vistas que ficam,

O que sumiu na curva,

Procuram.

Passou!

E se tudo passa,

Estiradas nos ataúdes,

Era uma vez as pegadas,

Pelo cortejo levadas.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 22/03/2020
Reeditado em 22/03/2020
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