Glossário gaúcho
Pequena compilação de mais de uma centena de vocábulos e expressões usados no Rio Grande do Sul. Alguns são comuns a várias regiões brasileiras. O propósito deste glossário é auxiliar quem ler minhas poesias tradicionalistas e não entender o significado de alguma palavra ou expressão.
(Para tanto, usei fontes fidedignas que cito no final desta lista).
Abrir o olho - tomar cautela, precaver-se.
Abrir o peito - Pôr-se a cantar.
Acabar com a casca - matar.
A cabresto – animal conduzido pelo cabresto, submetido.
Acertar na mosca - atingir em cheio o objetivo.
Acolherar – unir dois animais pela colhera, ou por meio de uma guasca
amarrada ao pescoço, ajoujar, atrelar.
Afinco – aferro, perseverança, persistência.
Afroxar o garrão - ser dominado pelo medo; cansar. (afroxar=afrouxar).
Agorinha - neste momento, recentemente, há pouquinho tempo.
Aguentar o repuxo - mostrar-se corajoso, enfrentar situação difícil.
Aguentar o tirão - Topar a parada, enfrentar com heroísmo as dificuldades, sustentar com brio uma opinião.
Aipim - mandioca, macachera.
A la cria - Ao Deus dará, (Foi-se a la cria = Foi-se embora).
A la fresca! - Exprime admiração, espanto, surpresa, descrença.
A la pucha! - Exprime admiração, espanto.
Amuado – (amuar) – mau humor passageiro, cansado, com preguiça.
Anca – garupa do cavalo; traseiro do vacum; quarto traseiro dos
quadrúpedes.
Andar como cachorro gaudério - andar à toa, gauderiando.
Aperado (aperos = arreios) – cavalo encilhado com esmero.
À porfia – disputa, competição (de trovadores).
Aporreado - cavalo mal domado, que não se deixa amansar.
Aprochegar – aproximar (-se), puxar para perto. (Te aprochega tchê ! =
chegue para perto)
Aragano – tribo indígena.
Arisco – esquivo (animal), desconfiado.
Aroeira – árvore da família das anacardiáceas.
Aureliano de Figueiredo Pinto – consagrado poeta e escritor gaúcho da
Região Missioneira.
Babaus! - acabou-se.
Bah ! – Interjeição que exprime admiração.
Baita – muito grande, exagerado.
Bagaceira – (sul) – pessoa de baixa moral.
Bagual – cavalo novo e arisco, reprodutor, equino selvagem bonito,
vistoso.
Barbaridade – barbarismo; (interjeição): barbaridade! – exprime espanto,
admiração, surpresa.
Bento Gonçalves da Silva – herói da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Bochincho (bochinche) - arrasta-pé, baile de plebe, desordem, briga.
Bolicho (bolicheiro = dono de bolicho ou boliche) – bodega, casa de
negócios de pequeno sortimento.
Bombacha(s) – calças largas, presas por botões acima do tornozelo,
pertence à indumentária do gaúcho.
Boqueirão - saída larga para um campo, depois de um desfiladeiro, de uma estrada estreita, de um lugar apertado.
Bruaca – espécie de mala de couro cru, apropriada para ser conduzida
em lombo de animal.
Buçal – espécie de cabresto com focinheira.
Buena – boa, bondosa;
Buenas! = buenas tardes, buenas noches ou buenos dias.
(cumprimento oriundo da língua espanhola)
Buenacho – muito bom, generoso, bondoso, cavalheiro; também se diz:
buenaço.
Caiapós – tribo indígena.
Caingangue (Kaingang) - indígenas que ainda existem no RS.
Cagaço – grande susto, medo.
Cagar-de-laço – surra, tunda.
Cambona – chaleira rústica, lata com alça de arame, usada
principalmente pelos carreteiros e tropeiros.
Canha, ou cana – cachaça, aguardente.
Caserna – quartel, habitação de soldados.
Capar – castrar.
Carreira - Corrida de cavalos em cancha reta.
Causo – conto, história, caso (narrativa à beira do fogo, nos galpões).
Cevar (cevar o mate) – preparar o chimarrão (mate amargo).
Charanga – pequena banda de música.
Chimarrão – mate amargo; mate cevado sem açúcar.
China – descendente ou mulher de índio; cabocla; esposa; mulher de
vida fácil; meretriz.
Chita – tecido de algodão ordinário, estampado em cores.
Cobres – dinheiro, moeda.
Coitado – desgraçado, mísero, pobre.
Coronilha – árvore cuja madeira é muito resistente.
CTG - sigla de "Centro de Tradições Gaúchas".
Cuera – cicatrizes no lombo do cavalo ou muar; gaúcho guapo. (lê-se
cuéra)
Cuiudo – animal (cavalo) não castrado.
Curtido – couro preparado para não apodrecer; sofrido.
Dantes – antigamente, antes.
Descaderar, descaderado – dor nas cadeiras (ou na coluna), cansado,
fatigado.
Destacado – que trabalha fora da sede.
Encilhar – colocar os arreios no animal.
Entono (entonado) – soberbo, arrogante.
Entrevero – desordem, confusão, briga.
Estio – falta de chuva.
Farrapos (Revolução Farroupilha) – alcunha deprimente que os imperiais
davam aos revolucionários de 1835.
Fiasco – vergonha, malogro, fracasso.
Flete – cavalo bom, de bela aparência.
Gaita – acordeom, sanfona. (gaitaço = festa com muita música)
Ganha-pão – trabalho, profissão.
Garrucha – arma de fogo, antiga.
Gaudério (gauderiar) – pessoa que não tem ocupação séria; andarengo;
índio-vago; gaúcho.
Ginete – pessoa que monta bem; bom cavaleiro.
Grota – furna, gruta, vale profundo.
Guacho – animal ou pessoa criado sem mãe ou sem o leite materno.
Guapo – ousado, valente, bonito, garboso.
Guasca (guasqueando) – tira, correia, corda de couro cru; denominação
do gaúcho em outros estados; guapo, valente.
Jaime Caetano Braun – consagrado poeta gaúcho (pajador) da região
missioneira.
Ilharga – cada uma das partes laterais e inferiores do abdome.
Largado (gaúcho largado) – que não tem paradeiro; gaudério.
Lavra (de minha lavra) – autoria (de minha autoria).
Maleva – bandido, malfeitor, perverso.
Mandalete – guri de recado.
Mão-de-vaca – sovina, miserável, que não solta o dinheiro.
Maragato – revolucionário da Revolução Federalista de 1893 e depois da
Revolução de 1923.
Meia-pataca – moeda antiga; de pouco valor.
Matungo – cavalo velho, ruim, imprestável.
Melena (melenudo) – cabelo (cabeludo).
Minuano – vento frio que vem dos Andes; tribo indígena do sul.
Missões (missioneiro) – região do RS onde se localizavam os Sete Povos
das Missões.
Mundaréu – grande quantidade (de coisas ou de gente)
No mato sem cachorro – em apuros, em grandes dificuldades.
Nó cego – nó difícil de desatar.
No mas! – assim. (assim no más)
Oigalê ! (Oigaletê !) – Exprime admiração, espanto, alegria.
Ordenança – soldado às ordens de superior hierárquico.
Pago (s) – lugar em que se nasceu; querência; terra natal.
Pampa – vastas planícies do RS.
Pealo (pealar) – ato de arremessar o laço e por meio dele prender as
patas do animal que está correndo e derrubá-lo.
Pelear (peleia) – brigar (briga)
Perau – despenhadeiro, precipício.
Piguancha – moça, rapariga, chinoca, china, índia. (o mesmo que
Picuancha, pinguancha)
Pila – Dinheiro, moeda, reais.
Pilão – utensílio de socar, triturar, amassar grãos.
Pilão d’água – localidade próxima de Santiago, RS. Cachoeira e penhasco
desse belo local.
Pilcha (pilchado) – vestimenta típica de gaúcho.
Pingo – cavalo.
Poncho – espécie de capa de pano de lã.
Potro – cavalo novo.
Puaço – golpe dado com as puas (esporas do galo de rinha).
Querência – lugar onde se nasceu; pátria; pagos; torrão; rincão.
Queixo-duro – cavalo ou muar que não obedece às rédeas.
Quintessência – extrato levado ao último apuramento; o mais alto grau;
o auge.
Relho – rebenque, chicote, mango.
Renhida – disputada tenazmente.
Repente – ímpeto; trova ou versos de improviso.
Repontar – tocar o gado por diante de um lugar para outro.
Repuxo – lugar de água perigosa.
São Sepé (Sepé Tiaraju) – cacique guarani morto no massacre de
Caiboaté (1756), em defesa de sua terra.
Taura – exímio, experiente, hábil.
Teatino – cavalo sem dono; pessoa que anda longe de sua terra, como
animal sem dono.
Telha – cabeça, cérebro.
Telúrico – relativo à terra natal; amor pelo torrão onde se nasceu.
Terneiro – bezerro, novilho.
Tição - Pedaço de lenha acesa ou meio queimada; carvão.
Topetudo (topete) – animal de crinas grandes; indivíduo arrogante,
valente, destemido.
Trago (trago de canha) – pequeno copo de aguardente, gole de
cachaça.
Trapaça – logro, dolo, contrato fraudulento.
Tronqueira – esteios colocados nas porteiras; palanque grosso.
Tutano – medula óssea; (fig.) Força.
Velho patrão ou patrão velho – Deus.
Vespeira – ninho de vespas; lugar de perigos.
Vivente – pessoa, criatura, indivíduo.
Xiru (chiru) – índio, caboclo, que tem traços indígenas.
Xucro – animal não domado, bravio, arisco, esquivo.
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Fontes de consulta:
- Minidicionário Guasca,
de Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes,
Ed. Martins Livreiro, 4ª edição – 1998.
- Dicionário Aurélio, Ed. Positivo, 7ª edição – 2009.