... Amor
Amor, amor, amor, amor...; eita palavrinha miúda, que tá mais repetida, surrada, mastigada, amassada que nem feijão com arroz e angu, na boca de pobre.
Como um Rei nobre, que sou, está difícil de digerir esse amor que empurram-me goel'abaixo.
Sou do tempo de casas com portas e janelas para a rua; e não de grades de ferro, caixotes sobrepostos um sobre o outro, chamados apartamentos.
Sou do tempo da liberdade, de simplicidade, da singela e amizades de fundo de cozinha; e não de turbilhão de dedos debulhando a solidão das letras de um teclado em quartos soturnos.
Sou do tempo da franqueza do olho no olho, do aperto de mão, da honestidade cortada por fios de cabelos dos bigodes; não menos de sorrisos sinceros estampados nos lábios; e não de selfies de máscaras pálidas e assinaturas testemunhadas por planos de papéis.
Sou do tempo da gentileza, em dividir o banco da praça, da apreciação das águas cristalinas borbulhantes, em vez de polui-las.
Sou de tempo que criança era tratada como criança, mas punha-se em seu lugar perante os adultos.
Sou do tempo da lealdade, cumplicidade no decorrer do próprio tempo; e não da efemeridade do Carpe Diem.
Sou tempo que se amava, em vez de dizer eu te amo.
Sou do tempo, que sentimentos não se vendiam por ouro nenhum; bem como não batia de porta em porta, mendigando amor.
Sou de um tempo, que o tempo se permitia ao amor.
Tempos idos, tempos findos. Tempos que não voltam mais.