Ode ao Intimismo
Bens materiais é o acúmulo de coisas adquiridas lícitas ou ilicitamente durante o ciclo vital, por sua vez, felicidade não requer tempo e não se adquire, conquista; e embora seja qualitativa, é impossível medi-la em volume ou quantificá-la.
É feliz quem consegue ouvir o trinado dos pássaros; lê as minúcias no sopro dos ventos, observa a sincronia dos pingos de chuva ao cair; encanta-se com o marulho dos mares; vê beleza no chuá do véu de noiva que branqueia o despenhadeiro rochoso; perde tempo acompanhando o desabrochar de um botão de flor ou o nascer e bater asas dos pássaros para o voo nupcial, aponta o dedo para as estrelas e assiste extasiado o desfilar da lua vaga no céu; enfim, é feliz aquele que admira o universo e suas inúmeras variantes subjetividades.
A felicidade não é palpável e por não ser, necessita de uma combinação de fatores e coisas intimistas; portanto, embora a casa na praia e no campo; a muitas viagens para o exterior durante o ano; os sorrisos esparramados sobre a mesa posta; os muitos quadros com diplomas e especializações nas paredes dos escritórios e consultórios; a elegância das vestes; o carro de luxo na garagem; o poliglotismo; a boiada no pasto e curral; o beijo maquinal e o sexo obrigatório aparentem ser criaturas felizes, é muito provável que a felicidade plena não exista.