NADA SENDO, DEUS É TUDO
Muito do amor tenho a dar, ainda que nada mais caiba em meu peito. Tenho a dar o que era, meus sonhos, teus fragmentos. Tenho a dar a cisma, o vento, o querer avante!
Tenho ainda aquela palavra pequenina, mas com grandes esferas. Ai de mim, que sou meu próprio amante! Se tens o ar que respira, não sendo bicho nem pudor, clama a Deus: Cante!
Cante, e Deus te ouvirá, e seu peito será dilatado. Caberá então o infinito, e o repente: simplesmente mistério; Muito do amor tenho, e sou, então, o desejo que morrera. A face, o gesto, a coisa mansa: ainda que eu seja essa nódoa pesada, sete portas me sustentam: o meu acabamento.
É sendo acabado que ganho vida, é morrendo que a criação (e a Voz) me exalta. Se antes fui maldição, hoje sou Bênção. És o orvalho, e enfim, és nada.
Mas sendo nada, Deus foi tudo. Sendo carne, Foi espírito. Sendo silêncio, Foi e Sempre será o Verbo da Vida.