APESARES DE MIM
Continuo nos apesares de mim. A lua se acende - acendem-na - e o sol brilha sete vezes, sangra em quarenta anos.
Além de seu derrame melancólico, cujas naus madrugadas lambem o amor do mundo, a lua aprende a aconselhar os astros: é composta de lucidez. E se ainda assim se afoga, pobre céu, lamenta-se, perde um ser amado. Por isso continuo em meus apesares. Apesar de meus fritos, esses que triunfam em forma de Glória, sou o eterno aspecto da razão. Com quem converso, para quem me abro, às recorrências de dor: a parte lúcida dos meus domingos...
Percebo que o medo nos prende à desconfiança. Lua é criança que se veste de vida, é sonho que motiva carência. E se, nua, a espada me fere, consigo observar o mal do mundo: além do mar vejo as rosas, além do sol vejo o fogo, além de ti, vejo-me, escondido e acolhido no nada...