PÁLIDA E INSENSÍVEL MANHÃ
É pálida esta manhã em que me deito, e sem razão fecunda junto às minhas desesperanças. De lívida já não sabe se é a segunda folha do mundo, ou o rio que deságua na inconsciência humana. Não há nota nem acorde que a faça tremer, e sequer teme que o tempo a devore. Manhã na qual meu olhar busca certezas e encontra náuseas. É então que a interpreto como um fósforo ríspido, aceso e entardecido nas artérias de seu percurso.
Deslizo fraco e recôndito na falha ambígua do tempo: o nada envelhece. Mesmo clandestinamente indefinidas, podemos ver nossas mãos enrugarem, acompanharem o destino anônimo de almas que se encolhem por nada saberem.
Cada dia me traz à espera um novo deleite, e ao chão lanço as flores da madrugada. Com uma sublime bandeira declaro paz às nações, e espero que elas fortaleçam o esconderijo das falências humanas. Não por fardo, nem prisões sentimentais. Mas no que move insensivelmente a cratera dos inacabamentos: versos espirituais.